A
Magia Enochiana da Golden Dawn está quase totalmente endereçada na Grande Mesa
das Quatro Torres de Vigia e nas 48 Chaves ou Invocações, mas Mathers era
suficientemente perceptivo para relacionar à Mesa. Trata somente de anjos e espíritos
cujos nomes podem ser extraídos das Torres de Vigia por meio de um conjunto
específico de regras - não há menção aos espíritos dos Trinta Aethers ou
91 espíritos geográficos que regem as diversas regiões do mundo. Assim, a
Magia Enochiana da Golden Dawn é somente uma parte do sistema de magia recebido
por Dee e Kelley.
A
seu crédito, deve-se dizer que Mathers foi capaz de acrescentar, de forma mais
ou menos inteligente, muitos detalhes relativos às Torres de Vigia não
declarados nitidamente nas conversas angélicas. Na Magia da Golden Dawn, as
Torres de Vigia estão explicitamente conectadas as cores, sinais do zodíaco,
direções, cartas de Tetragrammaton e elementos ocultos. Essas correspondências
possuem imensa utilidade nos rituais práticos que empregam as Torres de Vigia.
As Chaves foram relacionadas por Mathers (ou um de seus associados) a diferentes
partes da Grande Mesa; e para os espíritos localizados naquelas partes, assim
falando, uma Chave em particular em enochiano evoca-se um espírito em
particular. 0 sistema de Magia Enochiana usado na Golden Dawn será abertamente
abordado em nossos estudos.
Um
dos jovens membros da Golden Dawn era Aleister Crowley* (1875-1947). Crowley é
o mago mais famoso do século XX. Quando era criança, sua mãe (membro da seita
fanática "Plymouth Brethren") referia-se a ele como a Besta. Sua
jovem mente prendeu-se a essa etiqueta como uma revelação. Em sua
autobiografia escreve: "Minha mãe acreditava que eu era na verdade o
Anticristo do apocalipse...". "Nunca perdi de vista o fato de que era
em um sentido ou outro a Besta 666".
A
Besta e o Anticristo são confundidos, mas a confusão foi de sua mãe, não de
Crowley, que após a recepção do Líber Al Vel Legis – O Livro da Lei, se
considerou meramente como um mensageiro
do novo Aeon - O Aeon de Hórus
Crowley
ansiosamente devorou a magia da Golden Dawn. Era fortemente atraído para a
magia desde o seu lado mais obscuro ao mais profundo. Seu mentor na Golden Dawn,
Allan Bennett, avisou-o contra essa linha de estudo, mas Crowley não deu atenção.
Essa atração ligada a seus hábitos boêmios tomaram-no impopular entre os líderes
conservadores da Ordem.
Eventualmente,
Crowley e a Golden Dawn separaram-se, porém ele continuou a usar os
ensinamentos da Golden Dawn pelo resto de sua vida. Mais que qualquer outro
aspecto da Magia da Golden Dawn, ele estava fascinado com a linguagem enochiana
e as Chaves para as Torres de Vigia. Crowley considerou-se como a própria
reencarnação de Edward Kelley compartilhando a capacidade de observação do
globo de cristal de Kelley através do seu
uso pessoal do Espelho Mágicko.
Enquanto
viajava pela da Argélia, em 1909, Crowley invocou os Aethers Enochianos em
ordem inversa, a partir do 282 para o primeiro, usando as 19 Chaves para todos
eles. A Chave para todos os 30 Aethers é a mesma, exceto para o nome do Aether
envolvido. Assim, as últimas 30 chaves são, na verdade, uma única Chave que
é aplicada aos 30 Aethers. Previamente, enquanto visitava o México, em 1900,
invocou o 13º e o 29º Aether; assim estava meramente assumindo a partir do
ponto que tinha parado. Esse método de trabalho empregado por Crowley era
similar, em alguns aspectos, ao de Dee e Kelley. Ele encontraria um local
particular onde poderia estar sozinho com seu discípulo, Victor Neuberg. Então,
recitaria a 19ª Chave com o nome do Aether que procurava invocar inserindo no
texto, no local apropriado.
Não
sabemos se ele utilizou a versão inglesa ou enochiana da Chave. A versão
enochiana seria a prática correta, mas em suas “Confissões” fala em
"alterar dois nomes" para adequar a Chave a cada Aether. Na versão
inglesa, duas palavras podem ser alteradas para cada Aether, mas na versão
enochiana, somente uma palavra. Assim, talvez Crowley tenha invocado os Aethers
usando a versão inglesa da 19ª Chave.
Após
sentir a presença do anjo desse Aether, ele fitou um grande topázio colocado
em uma cruz de madeira decorada. Descrevendo uma visão na pedra, Neuberg,
sentado ao seu lado, escreveu suas palavras em um caderno, apenas como Dee havia
registrado as palavras de Kelley há mais de três séculos passados. Esse
registro formou o trabalho conhecido como Visão e a Voz.
Crowley
declarou em sua autobiografia ter feito um Aethyr a cada dia. Parece que ele não
empregou as primeiras 18 Chaves enquanto evocava os Aethers. Entendia as 18
Chaves preliminares na forma que foram ensinadas pela Golden Dawn.
Descrevendo-as, ele diz que as primeiras duas Chaves relacionavam-se com a
quintessência ou espírito elementar, enquanto as próximas 16 relacionam-se
aos quatro elementos em subdivisões de quatro. Esta é a base do ensinamento da
Golden Dawn, um conceito meramente hermético.
Crowley
demonstrou uma compreensão forte e intuitiva das Chaves e Torres de Vigia. Teve
problemas para reconciliar as diversas interpretações dos Aethers - se eram
esferas angélicas concêntricas que estavam além dos limites das quatro Torres
de Vigia, ou anjos cujos nomes estão escritos nas Torres de Vigia, ou meramente
nomes para as diversas regiões geográficas na superfície da Terra. Essa
confusão é compreensível, pois em nenhum momento Dee escreveu algo para
esclarecer a questão. Crowley escolheu considerar os Éteres, no primeiro e
mais místico sentido. Descreveu as Torres de Vigia como "compondo um
quadrante de magnitude infinita". Isso está acima do entendimento normal.
Crowley
abriu os portais definitivamente. A magia enochiana foi entregue pelos anjos
para atuar como um catalisador para a Magia Apocalíptica – ou seja – elevar
o grau de elevação do ser humano preparando-o para o próximo estágio ou
dimensão. Por favor, não entendam nada do que aqui é dito como o “fim dos
tempos”, muito pelo contrário, como uma fórmula extremamente dinâmica de
Assunção Espiritual, através do emprego desse sistema mágicko, ou para os
incautos e despreparados magos negros e feiticeiros o fatídico fim num manicômio.
Após deixar a Golden Dawn, Crowley criou seu próprio mito oculto. Tornou-se o
“Magus” do crepúsculo do Aeon de Hórus, que começava em abril de 1904,
com sua recepção inspirada do Líber Al Vel Legis, ditado por seu anjo da
guarda, Aiwass.
0
anjo da guarda de Crowley atraiu-o para um papel similar àquele forçado a John
Dee pelos anjos enochianos. Crowley era tanto o escritor sagrado como o profeta
para o deus Ra-Hoor-Khuit (Hórus).
Sua
instrução era registrar os dizeres do deus e divulgar sua mensagem pelo mundo,
com o Livro da Lei:
“Agora
vós sabereis que o sacerdote & apóstolo escolhido do espaço infinito é o
sacerdote-príncipe, a Besta; e em sua mulher, chamada a Mulher Escarlate, está
todo o poder dado. Eles reunirão minhas crianças em seu cercado: eles levarão
a glória das estrelas para os corações dos homens.”
(Líber Al - I, 15)
0
Aeon de Hórus pode ser entendido, em sentido geral, como similar à idade
astrológica de Aquário. Muitas culturas da Antigüidade dividem o tempo em uma
série repetida de idades, cada idade com suas características únicas
definidas. Por exemplo, no sistema da Qabalah, estamos atualmente vivendo na Era
de Geburah, caracterizada pelo rigor e guerra. A próxima será a Era de
Tiphareth, um tempo de harmonia e paz. No mito pessoal de Crowley, o crepúsculo
do Aeon de Hórus substituiu o antigo Aeon de Osíris, o deus egípcio do sacrifício,
da morte e ressurreição que a Igreja Romana buscou para relacionar ao mito de
Jesus Cristo.
Existem
alguns paralelos entre o Livro da Lei inspirado pelos anjos de Crowley, e a
Chave dos Trinta Aethers de Dee. No Livro da Lei está escrito: "Nós
nada temos com o proscrito e com o incapaz: que eles morram em sua miséria.
Pois eles não sentem. Compaixão é o vício dos reis: pisa sobre o desgraçado
& o fraco: esta é a lei do forte: esta é a nossa lei e a alegria do mundo."
(Líber
Al II, 21)
Na
Chave dos Trinta Éteres aparecem as palavras: “Governe aqueles que governam;
subjugue tal como caem; crie com aquele que aumenta e destrói o desonesto.”
Ambas as passagens se referem aos efeitos do Karma, da causa e do efeito do
mundo natural. Em outro local no Livro da Lei está escrito: "Sim!
não acrediteis em mudanças: vós sereis como vós sois, & não outro.
Portanto, os reis da terra serão Reis para sempre: os escravos servirão. Ninguém
há que será derrubado ou levantado: tudo é sempre como foi".
(Líber
Al II, 58)
0
Aeon de Hórus é de disputa e guerra, como o tempo do apocalipse é tempo de
destruição do ego inferior do homem. Na Chave dos Trinta Aethers está
escrito: "Deixe as criaturas razoáveis da Terra (ou homens)
atormentarem-se e extirparem-se mutuamente; e deixe-os esquecer os nomes dos
locais de habitação; deixe o trabalho do homem e sua pompa serem
desfigurados."
Em
enochiano, a palavra Babalon significa "perverso" e a palavra
“babalond” significa "prostituta" - desse modo, a alteração na
grafia da palavra, embora Crowley justificasse isso em bases numéricas.
Existe
uma referência direta no Livro da Lei às Chaves Enochianas sugeridas em dois
lugares:
"Há
quatro portões para um palácio; o chão desse palácio é de prata e ouro; lápis
lazuli & jaspe estão lá; e todos os aromas raros; jasmim & rosa, e os
emblemas da morte.
Que ele entre por
partes ou de uma só vez nos quatro portões; que ele fique de pé sobre o chão
do palácio."(Líber
Al I, 51). Isso pode ser interpretado como uma referência
à Grande Mesa das Torres de Vigia, que possui quatro lados e tem quatro partes.
Em
Líber Al III, 47 está escrito: "Este
livro será traduzido para todas as línguas: mas sempre com o original na
escrita da Besta; pois na forma ao acaso de suas letras e suas posições umas
com as outras: nisto há mistérios que nenhuma Besta adivinhará. Que ele não
procure tentar: mas virá um após ele, de onde Eu não digo, que descobrirá a
Chave de tudo. Então, esta linha traçada é uma chave: então este círculo
esquartejado em sua falha é uma chave também."
Assim
percebemos claramente uma ligação entre o Liber Al e a Magia Enochiana, bem
como às Chaves Enochianas.
Atualmente
muitos grupos modernos que praticam a forma de ritual de magia sobrevinda da
Golden Dawn (diretamente ou por meio de Crowley) usando extensivamente a magia
enochiana.
Uma
única observação particular deve ser feita a respeito da Society O.T.O.
Brasil, como uma organização dedicada não só ao estabelecimento da Lei de Thélema
bem como à filosofia e magia herméticas, nossos ensinamentos incluem a Grande
Mesa das Torres de Vigia, as Chaves e os espíritos dos 30 Aethers.
Nas
últimas décadas, a magia enochiana experimentou outro período de apogeu. De
forma crescente os escritos de Dee estão encontrando seu caminho entre os
livros populares de magia cerimonial mas sempre de forma fragmentada e
incompleta.
O
processo de aprendizado do Sistema Enochiano deve ser lento e meticuloso, pois
trata-se das comunicações enochianas completas, com as diversas passagens em
latim traduzidas para o português, de forma a ser utilizado pelo magista sério
e pesquisador o material, que está completo de modo a apresentar uma visão
geral da magia enochiana e permitir que esta seja usada para fins práticos.
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