quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Sobre a Magia Enochiana e Crowley



A Magia Enochiana da Golden Dawn está quase totalmente endereçada na Grande Mesa das Quatro Torres de Vigia e nas 48 Chaves ou Invocações, mas Mathers era suficientemente perceptivo para relacionar à Mesa. Trata somente de anjos e espíritos cujos nomes podem ser extraídos das Torres de Vigia por meio de um conjunto específico de regras - não há menção aos espíritos dos Trinta Aethers ou 91 espíritos geográficos que regem as diversas regiões do mundo. Assim, a Magia Enochiana da Golden Dawn é somente uma parte do sistema de magia recebido por Dee e Kelley.
 
A seu crédito, deve-se dizer que Mathers foi capaz de acrescentar, de forma mais ou menos inteligente, muitos detalhes relativos às Torres de Vigia não declarados nitidamente nas conversas angélicas. Na Magia da Golden Dawn, as Torres de Vigia estão explicitamente conectadas as cores, sinais do zodíaco, direções, cartas de Tetragrammaton e elementos ocultos. Essas correspondências possuem imensa utilidade nos rituais práticos que empregam as Torres de Vigia. As Chaves foram relacionadas por Mathers (ou um de seus associados) a diferentes partes da Grande Mesa; e para os espíritos localizados naquelas partes, assim falando, uma Chave em particular em enochiano evoca-se um espírito em particular. 0 sistema de Magia Enochiana usado na Golden Dawn será abertamente abordado em nossos estudos.
 
Um dos jovens membros da Golden Dawn era Aleister Crowley* (1875-1947). Crowley é o mago mais famoso do século XX. Quando era criança, sua mãe (membro da seita fanática "Plymouth Brethren") referia-se a ele como a Besta. Sua jovem mente prendeu-se a essa etiqueta como uma revelação. Em sua autobiografia escreve: "Minha mãe acreditava que eu era na verdade o Anticristo do apocalipse...". "Nunca perdi de vista o fato de que era em um sentido ou outro a Besta 666".
 
A Besta e o Anticristo são confundidos, mas a confusão foi de sua mãe, não de Crowley, que após a recepção do Líber Al Vel Legis – O Livro da Lei, se considerou meramente como um  mensageiro do novo Aeon - O Aeon de Hórus
 
Crowley ansiosamente devorou a magia da Golden Dawn. Era fortemente atraído para a magia desde o seu lado mais obscuro ao mais profundo. Seu mentor na Golden Dawn, Allan Bennett, avisou-o contra essa linha de estudo, mas Crowley não deu atenção. Essa atração ligada a seus hábitos boêmios tomaram-no impopular entre os líderes conservadores da Ordem.
 
Eventualmente, Crowley e a Golden Dawn separaram-se, porém ele continuou a usar os ensinamentos da Golden Dawn pelo resto de sua vida. Mais que qualquer outro aspecto da Magia da Golden Dawn, ele estava fascinado com a linguagem enochiana e as Chaves para as Torres de Vigia. Crowley considerou-se como a própria reencarnação de Edward Kelley compartilhando a capacidade de observação do globo de cristal de Kelley através do seu  uso pessoal do Espelho Mágicko.
 
Enquanto viajava pela da Argélia, em 1909, Crowley invocou os Aethers Enochianos em ordem inversa, a partir do 282 para o primeiro, usando as 19 Chaves para todos eles. A Chave para todos os 30 Aethers é a mesma, exceto para o nome do Aether envolvido. Assim, as últimas 30 chaves são, na verdade, uma única Chave que é aplicada aos 30 Aethers. Previamente, enquanto visitava o México, em 1900, invocou o 13º e o 29º Aether; assim estava meramente assumindo a partir do ponto que tinha parado. Esse método de trabalho empregado por Crowley era similar, em alguns aspectos, ao de Dee e Kelley. Ele encontraria um local particular onde poderia estar sozinho com seu discípulo, Victor Neuberg. Então, recitaria a 19ª Chave com o nome do Aether que procurava invocar inserindo no texto, no local apropriado.
 
Não sabemos se ele utilizou a versão inglesa ou enochiana da Chave. A versão enochiana seria a prática correta, mas em suas “Confissões” fala em "alterar dois nomes" para adequar a Chave a cada Aether. Na versão inglesa, duas palavras podem ser alteradas para cada Aether, mas na versão enochiana, somente uma palavra. Assim, talvez Crowley tenha invocado os Aethers usando a versão inglesa da 19ª Chave.
 
Após sentir a presença do anjo desse Aether, ele fitou um grande topázio colocado em uma cruz de madeira decorada. Descrevendo uma visão na pedra, Neuberg, sentado ao seu lado, escreveu suas palavras em um caderno, apenas como Dee havia registrado as palavras de Kelley há mais de três séculos passados. Esse registro formou o trabalho conhecido como Visão e a Voz.
 
Crowley declarou em sua autobiografia ter feito um Aethyr a cada dia. Parece que ele não empregou as primeiras 18 Chaves enquanto evocava os Aethers. Entendia as 18 Chaves preliminares na forma que foram ensinadas pela Golden Dawn. Descrevendo-as, ele diz que as primeiras duas Chaves relacionavam-se com a quintessência ou espírito elementar, enquanto as próximas 16 relacionam-se aos quatro elementos em subdivisões de quatro. Esta é a base do ensinamento da Golden Dawn, um conceito meramente hermético.
 
Crowley demonstrou uma compreensão forte e intuitiva das Chaves e Torres de Vigia. Teve problemas para reconciliar as diversas interpretações dos Aethers - se eram esferas angélicas concêntricas que estavam além dos limites das quatro Torres de Vigia, ou anjos cujos nomes estão escritos nas Torres de Vigia, ou meramente nomes para as diversas regiões geográficas na superfície da Terra. Essa confusão é compreensível, pois em nenhum momento Dee escreveu algo para esclarecer a questão. Crowley escolheu considerar os Éteres, no primeiro e mais místico sentido. Descreveu as Torres de Vigia como "compondo um quadrante de magnitude infinita". Isso está acima do entendimento normal.
 
Crowley abriu os portais definitivamente. A magia enochiana foi entregue pelos anjos para atuar como um catalisador para a Magia Apocalíptica – ou seja – elevar o grau de elevação do ser humano preparando-o para o próximo estágio ou dimensão. Por favor, não entendam nada do que aqui é dito como o “fim dos tempos”, muito pelo contrário, como uma fórmula extremamente dinâmica de Assunção Espiritual, através do emprego desse sistema mágicko, ou para os incautos e despreparados magos negros e feiticeiros o fatídico fim num manicômio. Após deixar a Golden Dawn, Crowley criou seu próprio mito oculto. Tornou-se o “Magus” do crepúsculo do Aeon de Hórus, que começava em abril de 1904, com sua recepção inspirada do Líber Al Vel Legis, ditado por seu anjo da guarda, Aiwass.
 
0 anjo da guarda de Crowley atraiu-o para um papel similar àquele forçado a John Dee pelos anjos enochianos. Crowley era tanto o escritor sagrado como o profeta para o deus Ra-Hoor-Khuit (Hórus).
 
Sua instrução era registrar os dizeres do deus e divulgar sua mensagem pelo mundo, com o Livro da Lei:
 
Agora vós sabereis que o sacerdote & apóstolo escolhido do espaço infinito é o sacerdote-príncipe, a Besta; e em sua mulher, chamada a Mulher Escarlate, está todo o poder dado. Eles reunirão minhas crianças em seu cercado: eles levarão a glória das estrelas para os corações dos homens.” (Líber Al - I, 15)
 
0 Aeon de Hórus pode ser entendido, em sentido geral, como similar à idade astrológica de Aquário. Muitas culturas da Antigüidade dividem o tempo em uma série repetida de idades, cada idade com suas características únicas definidas. Por exemplo, no sistema da Qabalah, estamos atualmente vivendo na Era de Geburah, caracterizada pelo rigor e guerra. A próxima será a Era de Tiphareth, um tempo de harmonia e paz. No mito pessoal de Crowley, o crepúsculo do Aeon de Hórus substituiu o antigo Aeon de Osíris, o deus egípcio do sacrifício, da morte e ressurreição que a Igreja Romana buscou para relacionar ao mito de  Jesus Cristo.
 
Existem alguns paralelos entre o Livro da Lei inspirado pelos anjos de Crowley, e a Chave dos Trinta Aethers de Dee. No Livro da Lei está escrito: "Nós nada temos com o proscrito e com o incapaz: que eles morram em sua miséria. Pois eles não sentem. Compaixão é o vício dos reis: pisa sobre o desgraçado & o fraco: esta é a lei do forte: esta é a nossa lei e a alegria do mundo." (Líber Al II, 21)
 
Na Chave dos Trinta Éteres aparecem as palavras: “Governe aqueles que governam; subjugue tal como caem; crie com aquele que aumenta e destrói o desonesto.” Ambas as passagens se referem aos efeitos do Karma, da causa e do efeito do mundo natural. Em outro local no Livro da Lei está escrito: "Sim! não acrediteis em mudanças: vós sereis como vós sois, & não outro. Portanto, os reis da terra serão Reis para sempre: os escravos servirão. Ninguém há que será derrubado ou levantado: tudo é sempre como foi". (Líber Al II, 58)
 
0 Aeon de Hórus é de disputa e guerra, como o tempo do apocalipse é tempo de destruição do ego inferior do homem. Na Chave dos Trinta Aethers está escrito: "Deixe as criaturas razoáveis da Terra (ou homens) atormentarem-se e extirparem-se mutuamente; e deixe-os esquecer os nomes dos locais de habitação; deixe o trabalho do homem e sua pompa serem desfigurados."
 
Em enochiano, a palavra Babalon significa "perverso" e a palavra “babalond” significa "prostituta" - desse modo, a alteração na grafia da palavra, embora Crowley justificasse isso em bases numéricas.
 
Existe uma referência direta no Livro da Lei às Chaves Enochianas sugeridas em dois lugares:
 
"Há quatro portões para um palácio; o chão desse palácio é de prata e ouro; lápis lazuli & jaspe estão lá; e todos os aromas raros; jasmim & rosa, e os emblemas da morte. Que ele entre por partes ou de uma só vez nos quatro portões; que ele fique de pé sobre o chão do palácio."(Líber Al I, 51).  Isso pode ser interpretado como uma referência à Grande Mesa das Torres de Vigia, que possui quatro lados e tem quatro partes.
 
Em Líber Al III, 47 está escrito: "Este livro será traduzido para todas as línguas: mas sempre com o original na escrita da Besta; pois na forma ao acaso de suas letras e suas posições umas com as outras: nisto há mistérios que nenhuma Besta adivinhará. Que ele não procure tentar: mas virá um após ele, de onde Eu não digo, que descobrirá a Chave de tudo. Então, esta linha traçada é uma chave: então este círculo esquartejado em sua falha é uma chave também."
 
Assim percebemos claramente uma ligação entre o Liber Al e a Magia Enochiana, bem como às Chaves Enochianas.
 
Atualmente muitos grupos modernos que praticam a forma de ritual de magia sobrevinda da Golden Dawn (diretamente ou por meio de Crowley) usando extensivamente a magia enochiana.
 
Uma única observação particular deve ser feita a respeito da Society O.T.O. Brasil, como uma organização dedicada não só ao estabelecimento da Lei de Thélema bem como à filosofia e magia herméticas, nossos ensinamentos incluem a Grande Mesa das Torres de Vigia, as Chaves e os espíritos dos 30 Aethers.
Nas últimas décadas, a magia enochiana experimentou outro período de apogeu. De forma crescente os escritos de Dee estão encontrando seu caminho entre os livros populares de magia cerimonial mas sempre de forma fragmentada e incompleta.
 
O processo de aprendizado do Sistema Enochiano deve ser lento e meticuloso, pois trata-se das comunicações enochianas completas, com as diversas passagens em latim traduzidas para o português, de forma a ser utilizado pelo magista sério e pesquisador o material, que está completo de modo a apresentar uma visão geral da magia enochiana e permitir que esta seja usada para fins práticos.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Falxifer, O Ceifador da Mão Esquerda


Dentro da história da Humanidade, um dos acontecimentos mais antropomorfizados e cultuado foi a própria Morte. Tal culto se manifestou na história humana sob diversas máscaras diferentes, como o culto a Exu Caveira no Brasil, Baron Samedi no Haiti, Santíssima Murte no México e San La Muerte na Argentina.
Foi através do profundo estudo destes cultos ao mistério da humanidade que o Templum Falcis Cruentis codificou e desenvolveu o culto ao Falxifer, relacionando os aspectos magísticos e esotéricos deste culto com a demonologia e com o Satanismo, dando origem a corrente do Lord da Morte, Qayin Coronatus.
Assim como os espíritos de Exus, San La Muerte passou a ser visto como um “senhor dos caminhos”, uma entidade a quem se pede ajuda e proteção contra uma morte ruim. Os sincretismos realizados com cultos africanos, onde a presença do mistério da morte é constante e tem peso importante fizeram com que as oferendas concedidas a Exu Morte, Caveira, Calunga entre outros, também fossem utilizadas a San La Muerte. Essas oferendas normalmente consistem em incensos de patchuli, carne de porco mal passada e sem sal, bebidas alcoólicas e velas pretas e vermelhas, bem como charutos.

O culto mais associado à demonologia e foco do estudo do TFC em sua publicação, o livro “Liber Falxifer” foi o culto argentino a morte, correspondente a San La Muerte. Este culto diverge-se em seu cunho exotérico, aberto ao público e divulgado em meio a região e o culto esotérico, fechado apenas a aqueles iniciados na gnose da Morte. A associação deste culto argentino com a magia, quando aprofundado de modo exotérico, trazia à luz a identidade de San La Muerte como Azrael, anjo demiurgico responsável pelo desencarne. Já o aprofundamento esotérico da Mão Esquerda em relação a este culto, nos leva a um caminho muito mais sombrio e com muito mais profunda interpretação.


O caminho da Mão Esquerda atribui ao Ceifador a identidade de Caim/Qayin, primeiro ser a derramar sangue humano, conforme narra a mitologia judaica (não apenas bíblica, mas também as tradições orais e apócrifos). Estes textos apócrifos citam que Qayin não seria filho legítimo de Adão, mas fruto da relação entre Eva e a Serpente, uma manifestação da Chama Negra pela primeira vez presente no homem.
Segundo a tradição folclórica, Qayin, ao ter sua oferenda recusada por IHWH enquanto Abel, seu irmão era elogiado, decide matá-lo. E para isso ele utiliza seu instrumento de colheita, provavelmente feito de um osso curvo de animal, uma forma de foice primitiva. Desta forma, o espírito da Chama Negra presente em Qayin destrói Abel, o corpo de barro, transcendendo os limites do Causal. Como primeiro assassino, ao enterrar seu irmão, ele se torna também o primeiro coveiro e Senhor da Primeira Sepultura.
Ao enterrar seu irmão, os deuses ctônicos acausais aceitam sua oferenda sangrenta. Diz-se que no local onde Abel foi enterrado, uma roseira escarlate brotou, sendo essas as flores sagradas a Qayin e no culto a San La Muerte.

A linhagem de Qayin ben Samael (Qayin,filho de Samael) manteve-se ao longo das histórias, passando por Nahemah (A adorável) e por Tubal-Caim, ferreiro de armas de caça e guerra, sendo a base da humanidade. Essa fundamentação explicita que existe uma elite de seres humanos descendes do Falxifer, do portador da foice e grande iniciador – e todos nós portamos em nosso interior a Chama Negra, dependendo de nossa própria escolha despertá-la e portá-la orgulhosamente, ou reprimi-la e nos manter como os outros cordeiros de argila.
Ainda segundo esta tradição, Qayin, após ser morto por seus descendentes (que o confundiram com um animal em meio a mata), recebe a transição da carne para o Caos como um portal para o próprio Sitra Ahra, assentando assim em seu trono, e se tornando Baaltzelmoth (Senhor da Sombra da Morte).
Dentro deste cunho exotérico, San La Muerte/ Qayin Rex Mortiis é coroado não apenas como o senhor dos caminhos, mas também como um iniciador na senda da Mão Esquerda. Mais que um protetor, o portador do ensinamento e da iluminação provenientes da Morte e um detentor dos segredos da Alquimia de Saturno.



Qayin é a porta da Necrosophia e da Necromancia, ciências proibidas e pesadas até mesmo dentro dos aspectos da Mão Esquerda. O batismo de Falxifer vem da palavra latina Falcifer, cujo significado é “portador da foice”. O nome foi modificado de acordo com a gnose cainita, diferenciando assim o culto do TFC dos outros cultos exotéricos a San La Muerte. O “X” dentro desta gnose nos traz alusão a própria Marca de Caim, e também a seu título de guardião da cruz dos mortos, senhor da encruzilhada da Morte.



 Malachi Azi Dahaka

Os Aghori Sadhus



Aghori

foi uma seita tântrica da mão esquerda do período medieval indiano.

Esta seita se estabeleceu no século XIV baseava seus princípios nos textos tântricos de ordem ascética de Kapalika. Seus seguidores conhecidos como Aghori panthis, foram considerados depreciativos por suas praticas excêntricas, tais como usar crânios humanos como taças e usa-las em rituais em crematórios.
Seus membros se beneficiam de práticas com consumo álcool e carne (proíbido pela cultura vegetariana da Índia).


Aghori, significa algo a cerca de “Não-Aterrorizante” é um culto hindu a Shiva, que se aprofunda no caminho da Morte, se tornando sinistro para todos aqueles externos a ele, de tal forma a ser repudiado por muitos ocidentais e temidos mesmo dentro do Hinduísmo. O caminho e os cultos dos Aghori são totalmente voltados para a crença de que o Deus Shiva é o ser mais perfeito da criação, portando nega-lo ou negar os habitos e ritos passados por ele é negar sua mensagem e portanto afastar-se dele.



Este culto foi supostamente difundido no século XIV na índia, e é presente até hoje. Eles não se utilizam do sistema Vedico (baseado nos Vedas, antigos textos hinduístas), mas se baseiam em tudo relacionado a Shiva. Seu nome deriva das práticas dos monges, que levam ao mais extremo as práticas tãntricas de “quebra de paradigmas”. Estas práticas extremas envolvem sexo, ingestão de licores e vinhos proibidos religiosamente, porte de restos mortais de cadáveres e até mesmo o Canibalismo. Os hábitos considerados aterrorizantes para os homens mortais, e que diante dos olhos deles – os olhos de Shiva, são considerados sagrados. Tais práticas fizeram com que a sociedade Hindu os rejeitasse, embora ainda mantenham o “pé atrás” e o respeito a distância, Aghoris são vistos de forma péssima na índia.



A doutrina Aghori prega que se Shiva e Brahma são seres perfeitos, toda criação é boa, não existindo o mal. Portando o ser humano, constituído apenas de um Shava (corpo morto) com emoções deve transcender seus limites e tornar-se um Shiva, negando-se dos prazeres da carne e vivendo de acordo com a ritualística de Shiva, que inclui cobrir-se com cinzas de corpos, usar crânios como taças e portar ossos de animais e pessoas, a fim de se manter sempre alinhado com as energias destrutivas e mortais.

O mais importante de todos os Aghori foi Kinaram, que viveu cerca de 150 anos e é tido até hoje como um dos avatares encarnados do próprio Shiva. Existe um templo dedicado a Kinaram, sendo o mais sagrado dos Aghori até os dias atuais.

A maioria destes controversos monges são andarilhos ou vivem em cemitérios (chamados Shmashana), os locais sagrados do Deus Shiva. Normalmente andam nus ou com poucas roupas, como forma de transcender as sensações e emoções humanas. Os que vagam como andarilhos, frequentemente se alimentam de restos de comida ou perambulam pelas cidades portando seus Kapala (taça feita com a parte superior de um crânio).  Os rituais Aghori normalmente são crueis e dolorosos, a maioria culminando na ingestão de carne humana e meditação sentado sobre um cadáver, como forma de iluminação e transmutação de Shava para Shiva. Normalmente estes cadáveres são coletados no Rio Ganges, não ocorrendo assassinatos.

Os simbolos normalmente utilizados neste culto a shiva são os crânios (incluindo os Kapalas), o tridente de Shiva, as serpentes, as cinzas de cadáveres usadas como maquiagem e as mortalhas utilizadas como roupas. O tridente de shiva é realmente marcante, pois suas pontas representam os três Shaktis primordiais (icchi-poder do desejo; jhana – poder do conhecimento e krya – o poder da ação) utilizados por Shiva enquanto o bastão representa a coluna vertebral por onde a sushumna nadi se ergue, o caminho que a Kundalini percorre, levando o Aghori a iluminação e para perto de Shiva.

Apesar de temidos, em emergências Aghoris são convocados para realizar tratamentos de saúde física e espiritual. São os curandeiros mais eficientes de todos, pois podem tanto emanar poluição de seus corpos quanto absorver e trasnmutar o negativo em positivo, levando a cura dos enfermos. São largamente requisitados devidos a estes seus poderes. Por se considerarem parte do Universo como um todo, dizem que também possuem poderes sobre o meio ambiente em que meditam e convivem, embora raramente demonstrem seus poderes por caprichos, os guardando para ocasiões necessárias.

Apesar de serem impressionantes e controversos a primeira vista, sua filosofia tem muito a nos ensinar e é de um valor incalculável. Os Aghori levam o Caminho da Mão Esquerda a um extremo que nós ainda tememos e desconhecemos totalmente. As trevas mais intensas que tornam a luz de Shiva muito mais intensa e brilhante.