quarta-feira, 17 de maio de 2017

DIFERENÇAS ENTRE UMBANDA E QUIMBANDA



Um dos maiores problemas que existem está relacionado à confusão entre Umbanda e Quimbanda. Muitas pessoas acreditam que Quimbanda é uma ramificação da umbanda ou que ela é “o lado negro da umbanda” e isto é de fato uma afirmativa falsa, Pois a Quimbanda é um culto que tem seus próprios fundamentos e eles são muito diferentes da Umbanda, que é um culto que possui uma forte influência cristã.

Apesar de haver muitas diferenças regionais e variações da forma de culto de casa para casa, podemos exemplificar alguns aspectos da umbanda que a torna extremamente diferente da Quimbanda. Quando nos referimos à Umbanda, tudo começou quando no tempo de escravidão no Brasil a igreja católica proibia os negros de cultuarem os Orixás, pois ela demonizava tudo o que não estivesse de acordo com suas tradições.
Os negros foram obrigados a se converterem ao catolicismo e a igreja fez de tudo para destruir qualquer outra espécie de religião praticada por eles. Muitos negros que chegaram ao Brasil já haviam sido catequizados pelos Portugueses, mas havia outros negros que ainda queriam exercer suas crenças. Neste momento alguns negros em suas festas de senzalas começaram a cultuar os Orixás disfarçando seus cultos com imagens de santos católicos para burlarem as proibições da igreja. Nestas festas de senzalas além do culto aos Orixás, começaram a cultuar também os espíritos de ancestrais.
Os Preto-velhos ali incorporados seriam os espíritos de escravos que eram babalaôs, yalorixás, babalorixás, entre outros, que chegaram a uma idade avançada e que em vida davam conselhos e sabiam sobre as artes do seu povo.
Eles viveram nas senzalas e morreram de velhice ou no tronco e assim eram invocados para continuar dando conselhos e passar mensagens de “amor, fé e esperança” aos seus filhos. Anos mais tarde, iniciou-se a montagem de tendas e terreiros por várias partes do país.

No Brasil, os índios também foram escravizados pelos colonizadores e as crenças indígenas também influenciaram de diversas formas na formação da Umbanda, como as manifestações dos caboclos, que seriam espíritos de índios brasileiros, como pajés e caciques que também começaram a ser cultuados nessas casas de Umbanda. Podemos dizer então que a Umbanda surgiu de uma mistura de crenças, fundamentos e concepções originadas dos negros, índios, católicos e também da influência dos espíritas Kardecistas.
Devido ao fato de terem que disfarçar seus cultos com imagens ou elementos católicos e também porque alguns negros catequizados não haviam abandonado totalmente algumas de suas práticas tradicionais,com o passar do tempo, o sincretismo se tornou tão forte que ocorreu uma simbiose entre os santos católicos e os Orixás. Chegando ao ponto de ser comum ver, em muitos terreiros de Umbanda, os chefes de suas casas e seus praticantes rezando missas católicas dentro do terreiro e frequentando igrejas católicas atualmente. Muitos se dizem católicos e umbandistas ao mesmo tempo, frequentando duas religiões. Alguns exemplos dos sincretismos são: Oxalá sendo sincretizado com Jesus
Cristo, Ogum sincretizado com São Jorge, Oxossi sincretizado com São Sebastião, Iansã sincretizada com Santa Bárbara, Iemanjá sincretizada com Nossa Senhora da Glória, Oxumarê sincretizado com São Bartolomeu
e Ibejí sincretizado com São Cosme e Damião, dentre vários outros sincretismos que aconteceram ao longo do tempo. Quando falamos sobre a influência Kardecista na Umbanda, devemos lembrar-nos de Zélio
Fernandino de Morais, que muitos consideram como o anunciador da Umbanda. No dia 15 de novembro de 1908, em Neves, São Gonçalo, município do Estado do Rio de Janeiro, Zélio de Morais, que frequentava uma sessão espírita Kardecista, manifestou durante esta sessão o espírito chamado “Caboclo das Sete Encruzilhadas”, recebendo mais tarde o Preto-Velho também, chamado de Pai Antônio.

Os Kardecistas ali presentes julgaram aquelas manifestações como manifestações de espíritos atrasados, seres de pouca luz, pouco evoluídos. Segundo alguns relatos, quando incorporado através de zelio, o Caboclo
das Sete Encruzilhadas teria dito que se eles (os Kardecistas que estavam ali presentes) julgam os espíritos de pretos e índios como espíritosatrasados, então ele iria criar uma nova religião para que pudessem passar suas mensagens e cumprirem suas missões na Terra. Na década de 1920, Zélio fundou seu primeiro templo de Umbanda, o centro espírita Nossa Senhora da Piedade”, com o objetivo de prestar a caridade com humildade, respeito e fé, de acordo com eles. Algum tempo depois, outros terreiros foram criados por iniciativa do “Caboclo das Sete Encruzilhadas”. Esses terreiros serviram de referência para vários outros terreiros umbandistas que seguiram as orientações de Zélio posteriormente.

Com todos estes acontecimentos, podemos dizer que hoje a Umbanda é cultuada de diferentes formas, sendo algumas casas praticando os ensinamentos de Zélio, outras mais influenciadas pelas práticas anteriores a ele e outras que acabaram se sincretizando mais tarde com mais algumas outras tradições. Todos estes pontos de vistas diferentes dentro da Umbanda também acabaram influenciando o modo deles verem a manifestação e o culto ao Exu.

Na Umbanda existem duas Linhas. A linha da direita, que é formada por Caboclos, Preto-Velhos, Erês, Marinheiros e outros, e a Linha da Esquerda, onde se encontram os Exus e Pomba-Giras. Em algumas casas de Umbanda, principalmente as influenciadas pelo Kardecismo, os Exus são vistos como espíritos trevosos e obscuros que cometeram alguns “erros” durante a vida, mas resolveram se arrepender e estão buscando a luz “divina”, por isso estão trabalhando na Terra, para obter ajuda e também praticar caridades, ajudando outras pessoas para que todos eles possam “evoluir” e encontrar “a luz de Deus”. Segundo eles, o lado esquerdo da Umbanda é uma forma de ajudar os espíritos trevosos a encontrar o caminho da luz do “Deus criador”.
No entanto, em outras casas de Umbanda, existem aqueles que procuram agradar os dois lados.

Se por um lado eles acendem velas e trabalham com as “entidades de luz” da linha da direita, as quais eles consideram como seres de luz evoluídos, eles também trabalham com “a linha da esquerda”, os quais muitas vezes consideram como seres malignos e pouco evoluídos, fazendo pedidos às entidades para prejudicar outras pessoas, conseguir dinheiro e etc. Comumente eles dizem “Devemos acender uma vela para Deus e outra para o Diabo”. Na Umbanda há também culto aos Orixás, em algumas casas cada Orixá possui um Exu à sua esquerda e à sua disposição, repassando suas qualidades às entidades. Nenhum desses conceitos acima faz parte da Quimbanda, por isto estes são apenas alguns aspectos que tornam a Umbanda extremamente diferente da Quimbanda. Não somente pela forma exotérica, mas também pela forma esotérica. Essencialmente a Umbanda e a Quimbanda são muito diferentes, são duas correntes opostas, pois se por um lado à umbanda é dotada de uma ética cristã, baseada em um conjunto de “leis divinas”, a Quimbanda representa a heresia, a transgressão, o anti-politicamente correto e a quebra de leis dos homens e das leis do Deus cristão.

Autoria do texto de Marcelo Siqueira Mantelato

 

Um comentário:

  1. Para a umbanda se tornar melhor ela precisa extirpar esse lado cristão que nada tem a ver com seus fundamentos afro.

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