quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

O Nirvana Caoísta





Existe uma semelhança muito peculiar entre os ensinamentos da Magia do Caos e do budismo. De fato, é possível encontrar similaridades entre as linhas mais diversas e, a partir disso, montar um estudo comparativo. Hoje iremos nos ater a analisar o que há de comum entre uma escola da magia moderna e uma religião oriental.

No caoísmo ouve-se muito o seguinte lema: “Nada é verdadeiro; tudo é permitido”. Uma das possíveis interpretações dessa asserção seria a de que uma crença não expressa o absoluto, mas seria meramente circunstancial, tendo como fim realizar uma mudança de paradigma para atingir determinado objetivo. E, no interior do paradigma adotado, você pode realizar todos os experimentos possíveis, contanto que finja suficientemente bem que aquele processo é verdadeiro. Essa prática é encontrada no bordão: “Finja, até que atinja”.

Já no budismo existe o conceito de “maya”, que seria uma projeção da realidade criada por nós. Também fala-se em “vipallasa”, que seriam distorções ou alucinações que podem ocorrer na percepção, na mente ou nas ideias. É dito que não há um “eu” inerente (anatta) e que a impressão da existência seria uma constituição de agregados mentais. Contudo, para destruir o karma e atingir o nirvana, inicialmente você precisa do “paradigma da mente como identidade” para “aniquilar a mente com a própria mente”.

Essa concepção é muito semelhante à de que a “crença é uma ferramenta”, usada na Magia do Caos. Através do “paradigma do palhaço”, poderia ser dito que bastaria utilizar diferentes crenças como noção do absoluto, para que se compreenda a não existência da percepção do absoluto, e assim atingir uma espécie de “nirvana caoísta”.
Mas existe uma “verdade”, uma “coisa em si” ou um Absoluto, como realidade transcendental? O caoísta diz: “Eu não me importo!”. Buda diz: “Não importa” (já que ele estava mais preocupado com as questões de caráter pragmático do que com a ontologia). Então o caoísta dá um sorriso e levanta sua mão: “Bate aqui, Buda!”, ou, segundo um famoso trecho do Principia Discordia:

“GRANDE PATETA: Você é realmente sério, ou o quê?
MAL-2: Às vezes eu tomo como humor sério. Às vezes eu seriamente tomo como humor. De qualquer forma, isto é irrelevante.
GP: Talvez você apenas seja louco.
M2: Não me diga! Mas não leve meus ensinamentos por falsos só porque sou louco. A razão de eu ser louco é porque eles são verdadeiros.
GP: Éris é verdade?
M2: Tudo é verdade.
GP: Mesmo coisas falsas?
M2: Mesmo coisas falsas são verdade.
GP: E como pode ser isso?
M2: Eu não sei cara, eu não fiz isso”.

Ou ainda a frase, da mesma obra: “Eu tenho a crença inabalável de que é um erro ter crenças inabaláveis”. Digamos que algumas “crenças temporárias” se tornam úteis para resolver alguns paradoxos.

Segundo Ajahn Thanissaro, Buda ensinou a doutrina do “não-eu” não como uma afirmação metafísica, mas como uma estratégia para não se identificar com os fenômenos. Conforme demonstra o seguinte trecho do Samyutta Nikaya, Ananda Sutta:

“Tendo sentado a um lado, o errante Vacchagotta disse ao Abençoado, ‘Então, Venerável Gotama, existe um eu?’ Quando isso foi dito, o Abençoado ficou em silêncio. ‘Então, não existe um eu?’ Uma segunda vez o Abençoado ficou em silêncio. 

Então o errante Vacchagotta levantou-se do seu assento e partiu. 

Em seguida, não muito tempo após o errante Vacchagotta ter partido o Venerável Ananda disse ao Abençoado, ‘Porque, senhor, o Abençoado não respondeu quando foi perguntado pelo errante Vacchagotta?’ – ‘Ananda, se eu, tendo sido perguntado pelo errante Vacchagotta se existe um eu, tivesse respondido que existe um eu, isso estaria conforme com aqueles brâmanes e contemplativos que são os expoentes da doutrina eternalista (isto é, a idéia de que existe uma alma eterna). E se eu… tivesse respondido que não existe um eu, isso estaria conforme com aqueles brâmanes e contemplativos que são os expoentes do niilismo (isto é de que a morte é a aniquilação da experiência). Se eu… tivesse respondido que existe um eu, isso seria compatível com o surgimento do conhecimento de que todos os fenômenos são não-eu? 

‘Não, Senhor.’ 

‘E se eu… tivesse respondido que não existe um eu, o confuso Vacchagotta ficaria ainda mais confuso: “Aquele eu que eu costumava ter, agora não existe?”


Então, note que, embora a noção de um “eu” possa aprisionar, ela é necessária exatamente para que, através do nosso “eu” perceba-se a noção do “não-eu”, e, a partir disso, aniquile-se tanto a noção do “eu” como “não-eu”, como verdade.

No caoísmo, embora a noção da “crença” possa aprisionar, ela é necessária para que através da adoção de diferentes crenças obtenha-se a percepção de que a crença em si não é verdade e nem mentira, mas uma percepção mental para o entendimento de que “Nada é verdadeiro” (a crença é uma ferramenta); e “Tudo é permitido” (expansão da nossa interferência mágica mental e material através da manipulação contínua da visão da realidade).

No budismo também existe a marca da existência chamada “anicca” (impermanência ou inconstância), que reflete a realidade do samsara, ou a roda do karma. No caoísmo, mergulha-se nessas diferentes impressões da realidade através da mudança constante de paradigmas.
Poderíamos dizer então que tanto budismo como caoísmo chegaram a conclusões muito semelhantes acerca da realidade e encontraram soluções diferentes. Em relação à primeira parte do lema de Hassan-i Sabbah, “Nada é verdadeiro”, ambos concordam, no que concerne a nossas impressões da verdade. Quanto ao “Tudo é permitido” é uma estratégia caoísta de permanecer sempre saltitando de um paradigma a outro e, com essa libertação da mente, obter sabedoria e poder.

Ambos utilizam bons truques. Só podemos perceber a realidade através da limitação do nosso aparelho cognitivo, como se fossem óculos que mostrassem uma verdade embaçada. A solução do caoísta foi utilizar óculos de cores diferentes o tempo todo, para nunca se esquecer que estamos sempre sentindo o mundo com a limitação de nossos sentidos, e que nossas crenças não representam a totalidade da existência. Já o budista usa o método de utilizar a ilusão dos próprios óculos para tentar se livrar deles – os caoístas achariam isso meio chato e sem graça, já que eles consideram que óculos são muito chiques, especialmente os coloridos. Então por que parar de usá-los? Eles preferem rabiscar diferentes desenhos na tela em branco em vez de rasgá-la. E, para quem não gostou de nenhuma dessas opções, sempre é possível comprar um quadro pronto na loja, para decorar sua belíssima parede.


Tantra e o Caminho Aghori

… para a não diferenciação

Será que há diferença entre iluminação e não-diferenciação?

O objetivo do Tantra é Laya, o retorno ao estado de existência indiferenciada.

A maior parte dos ocidentais ao ouvir a palavra tantra faz o click para um conceito de “sexo tantrico”. Mas apesar de uma relação energética e filosófica diferente do comum ocidental para com o sexo, há bem mais que apenas associações a sexualidade na filosofia ancestral tântrica. É uma filosofia de vida e relação com o ciclo da vida e da morte, sobre sexualidade sim – força matriz, criativa, portal poderoso, acto sagrado de fusão e transcendência e dissolução, revelação e união, Amor e magia… (para não confundir com uma possibel banalização de sexo) Tantra comporta uma visão do Universo contendo uma relação filosófica,intelectual, física, matérica e espiritual entre criação e destruição – mas não só sobre sexo – a não ser que se veja sexo como portal prático metafórico de rendição à força imanente de vida-morte-vida como processo do que é este planeta. O que eu sinto é que a informação sobre Tantra que vem até ao ocidente é basicamente sobre sexo porque depois de uma cultura religiosa judaico-cristã e patriarcal sexualmente repressora como tivémos na Europa, ficámos ávidos de informação sobre sexo, o grande tabu, que reprime esta sociedade até aos dias de hoje. E reprime de tal forma que passámos do secretismo para o pólo inverso, obcessivo, que se mostra claramente numa profusão explosiva de sexo como a coisa que mais vende neste mundo, que tanto se quer e até se tem mas tão pouco se sente e compreende, confundindo-se até sexo (acto) com sexualidade ou energia sexual, mas, não vou por aqui. Enfim, Tantra tem muito que se lhe diga, é toda uma filosofia de uma cultura ancestral que tinha uma visão do mundo não comparável nem perceptível à visão judaico-cristã que formatou os olhos da nossa cultura com noções de matéria como diferente espírito, bom oposto de mau… Mas, ainda tentando explicar numa perspectiva judaico-cristã: para compreender e viver o Tantra é preciso ser um@ Sant@.

Não é que seja fácil tirar palas dos olhos, ou apercebermo-nos que as temos, mas sentir gratidão e leveza por cada momento em que estabelecemos uma relação, seja ela entre duas ideias, um modo de ver que de repente se desvanesce dando espaço a outro, é sobre experienciar e compreender para além de antagonismos e dicotomias.


Uma semente precisa de terra escura e húmida, terra que um dia foi já matéria apodrecida, para poder germinar e seguir o seu curso de vida alimentando-se de Sol. Uma planta sabe sempre que para chegar com os braços aos céus é necessário ter raízes bem profundas no mais escuro dos infernos. E sabe que não é uma questão nem de escolher entre um Pai céu ou uma mãe Terra, entre a luz ou a escuridão, sabe que não tem de pedir favores aos anjos nem aos demónios, sabe que ninguém a espia ou controla, que a vida é o que é e a morte faz parte dela. E dá, tudo o que tem, tudo o que é, para o melhor de todos, porque não há diferença entre mim e o todo, e tudo o que eu faço faz tudo o que há. O Tantra, ao contrário da maioria das correntes do hinduísmo que dizem que esta realidade é uma ilusão, diz que Tudo o que existe é o que existe aqui. E é com isso que lida, como a semente que germina quando tem de ser, e cresce como o que há, seja o solo rico ou pobre em nutrientes.

É óbvio que há por aí muito romantismo de ideias em relação ao Tantra, mas nao quer dizer que estejam nem certas, nem erradas – talvez seja apenas mais uma visão incompleta, que se foque apenas numa parte do Tantra (afinal uma filosofia milenar complexa e experiencial mais que teórica), mas enquanto que incompleta há que entender que a ideia que temos do Tantra é também distorcida, vista por lentes menos adequadas, pelas lentes da nossa cultura e dos nossos filtros emocionais e intelectuais, que vão sempre interpretar de acordo com aquilo que conhecem, com ideias e práticas que nos são comuns, e não raras vezes com aquilo que queremos que seja (numa cultura reprimida a nível emocional, sexual e social parece-me bastante óbvio que se vá à procura daquilo que não se tem – e aí aparece o Tantra, dando uma óptima desculpa para a libertação sexual como causa espiritual, mas ficando-se muitas vezes apenas por aí não dando sequer um vislumbre da filosofia transformadora e libertária de vida por detrás dele, da Interligação entre tudo, e da relação entre responsabilidade pessoal, social e emocional e o paradigma biológico base à vida neste planeta, que é um de interdependência das acções, para além de ideias de bem e de mal, a consciência pela acção. Um dos motivos pelo qual temos apenas um vislumbre do que vem verdadeiramente atrás de filosofias orientais que não vivemos, é porque para compreender uma cultura, é preciso mais que ler sobre ela, é preciso vivê-la, e não cair no erro da rotulação fácil, seja ela positiva ou pejorativa, e não cair no velho hábito do homem europeu: simplificar e categorizar, classificar e guardar em arquivo, o que é muito útil muitas vezes, mas há bem mais no inifinito vão do espaço do que aquilo que se consegue separar e categorizar. Nem um cientista reduccionista materialista gostaria de que o cosmos fosse um lugar fácil de rotular (aí acabaria a sua própria vontade, a ânima que move internamente como força misteriosa cada célula do cientista a investigar para tentar perceber o Cosmos) com os seu antagonismos primários mas redutore, incompatíveis, complementaridades indecifráveis. Afinal, o que é a sombra se não o outro lado de um abraço do Sol – da luz – sobre a matéria negra, matéria negra sem a qual não haveria nem luz para a iluminar, nem vida para com ela se relacionar.

Uma pequena amostra da crença Aghori no video abaixo.

desafiando as crenças Induístas




Visitar a índia (não digo visitar o resort, mas a índia e as suas vidas) ajuda a perceber um pouco mais quando se tenta conhecer uma filosofia que de lá veio. E porquê? Porque essa filosofia não estava nos livros apenas, mas enraizou-se por muito tempo na vida das pessoas, tornou-se gesto e hábito. E pela experiência directa do que resta destes gestos e hábitos, pela relação com o lugar, os pés no chão, o ar que respiramos partilhado, e a boca a comer do mesmo prato que acredito que se conhece mais uma teoria, ou que está por detrás dela.  E para um ocidental cheio de conceitos sobre bonito e feio, limpo e sujo, deus e o diabo não há nada como quando vamos à Índia e nos perdemos na imensidade do país e das suas poli-culturas agora abafadas senão destruídas pela monocultura do modo de vida americanizado mas ainda existentes, e os nossos sentidos entram em choque – não conseguindo relacionar no mesmo plano o cheiro a incenso com o cheiro a esgoto que se sente no mesmo local, a visão de mandalas de flores super cuidadas no tempo cuja entrada está decorada com velhinhas leprosas andrajadas que às vezes nem percebemos se estão vivas ou mortas. É ir ao Ganges e ver que as ofertas se transformam em lixo no curso do rio em segundos, o mesmo rio sagrado da Deusa Ganga tão adorada, o mesmo rio para onde vai todo o esgoto, onde se banham as pessoas, onde se bebe a àgua e onde flutuam cadáveres. A índia vivida, para além da ilusão chique e paradasíaca dos ashrams (que também é uma parte da Índia) coloca em cheque o nosso intelecto a cada segundo, baralha-nos e destrói tudo aquilo que achávamos que era ou seria, e no entanto é também isso tudo. Não tinha pensado nisto antes, mas descobrir os Aghoris é uma ajuda preciosa para perceber umas quantas ideias fundamentais, e sobre como vivem hoje entre tanto caos e contradição para os sentidos, os habitantes do continente indiano, repleto de tantas raízes e rizomas, das suas muitas culturas tão complementares como misturadas, recriadas, adaptadas e enlamaçadas – crenças e práticas diárias, formas de ver e de estar indecifráveis para um católico, é a única coisa que nos pode ajudar a sair do postal para a realidade integral em que tudo co-existe.

Os aghoris consomem de tudo, mas não são consumistas da forma como nos relacionamos com consumo no ocidente. Comem de tudo o que consideramos podre ou mau, mas para eles isso não é profano nem os adoece. Andam nús (o que consideramos uma forma de desprotecção) mas vestem-se com cinzas (e a verdade é que as cinzas têm poder anti-bacteriano, limpam e protegem de várias formas, e de mosquitos também).

Os conceitos viajam o planeta e transformam-se tal como se transforma a visão deles atravessada pelo tempo, e as práticas que deles hão-de devenir, mas é bom conhecer a raiz de tudo aquilo que tentamos abraçar ou cuidar, transformar, desconstruir ou destruir e ignorar até. Para compreender mais profundamente, e para  desconstruir pre-conceitos sejam eles quais forem, é preciso, como nos mostra um Aghori, e mergulhar mais fundo naquilo que não tem uma resposta, nem definição, e por isso mesmo não tendo nada definido abre espaço para a libertação. E nem é simples, ou fácil porque não é suposto ser nada em concreto – a cada qual o seu caminho – e a verdade é que isso não se vende, não tem garantias nem traz nada garantido nem nada de oferta – são caminhos de liberdade, a cada um o seu como bem o entender.



Aghori significa aquele que não tem medo e não descrimina. Para os Aghori, tudo é sagrado. E isso, é Tantra.



Caminho de um Aghori para a Iluminação


Crê-se que vão já pelo menos 1000 anos da seita hindu que desafia as crenças religiosas tradicionais e segue um caminho pouco convencional, o caminho radical para a iluminação, o Aghoris. A Morte, seu mestre espiritual; o crematório sua casa e Shiva, seu Deus, o destruidor eca personificação da morte.

Aghoris acreditam que Shiva induziu o melhor e o pior no mundo, acreditam que nada é profano, e tudo é sagrado para eles. Por isso, o que as outras seitas hindus consideram inaceitáveis ​​ou tabu, os Aghoris abraçam – sejam as forças das trevas “ou” impurezas “- os Aghoris abraçam com a crença de que os leva a um nível de consciência mais elevado. Vamo-nos aprofundar mais no seu mundo …

Aghoris, os sábios tântricos da Índia

Eles vestem-se com a mortalha de um cadáver ou roupas deixadas pela família do morto, vestem-se com as cinzas de cadáveres como uma proteção contra doenças, meditam sobre um corpo morto e consomem tudo, desde carne humana ou animal a excreta, urina, álcool – tudo é parte do ritual Aghora, o que significa, literalmente, não aterrorizante, e Aghoris são seus praticantes.

O caminho da não-dualidade

Os Aghoris têm que eliminar pensamentos de dualidade entre o puro e o impuro, o bem e o mal; negar a perfeição de qualquer coisa seria como desrespeitar a sacralidade da vida em toda a sua manifestação.
Robert Svoboda, um autor americano e médico ayurvédico em seu livro – Aghora II: Kundalini, explicado – “O Aghori estabelece para superar as limitações humanas por quebra internamente todas as restrições, não importa o quão antigo ou poderoso o tabu, e também através da criação de um corpo / mente que é capaz de conter emocional, sensoriais e outras experiências que consomem alguém não devidamente preparado.”


 


Aghori Rituais

O uso de crânios humanos e Tantra

Uma vez iniciada, o Aghori vai em busca de um crânio humano ou ‘kapala’, que é um sinal real de um Aghori, para ser utilizado como uma bacia. Acredita-se que após a morte, o prana ou força da vida do falecido, se apega no topo do crânio.


Usando mantras e certas ofertas, especialmente álcool, um Aghori Sadhna convoca o espírito para voltar ao corpo, e ganhar controle sobre ele, aproveita seus serviços. Aghori sadhana inclui prática tântrica, várias formas de Yoga e meditação.

Svoboda explicou em seu livro, Aghora: Na Mão Esquerda de Deus: “Aghora é a apoteose do Tantra … cuja divindade suprema é a deusa mãe …. Tantra tem até agora sido vislumbrado no Ocidente apenas em suas formas mais vulgares e degradada, promulgado pelo canalhas sem escrúpulos que igualam sexo com super consciência. Sexo é de fato fundamental para Tantra, a união sexual cósmica de dualidades universais. O objetivo do Tantra é Laya, retorno do candidato ao estado de existência indiferenciada.”

Cada Aghori segue diferentes práticas, dependendo de sua capacidade; o único fator comum é o seu grau de intensidade e determinação.

Comer carne humana

Durante 12 anos, ele medita em nome do Senhor Shiva no crematório, considerado um local ideal para adorar Shiva. Eles comem carne humana, que serve como um lembrete para o Aghori que não existe distinção entre o bom ou mau, carne humana ou animal. Para eles, tais distinções são apenas ilusórias, e raramente servem a qualquer propósito no desenvolvimento espiritual da alma humana. Ele simboliza a transcendência do Ser para uma realização maior.

Meditando sobre um cadáver

Aghoris realizam um ritual conhecido como Shava (cadáver fresco) Sadhana, que significa meditar em cima de um cadáver, cantar mantras para invocar o Smashan Tara (deusa das terras da cremação), que abençoará a Aghori com poderes sobrenaturais, se o ritual for feito da maneira correta. Aghoris não temem a morte, eles usam substâncias tóxicas como álcool ou ganja, antes de realizar um ritual que ajuda-os a superar seus medos e ir além de seu corpo.

Realização de um ritual tântrico

O mentor e autor Svoboda, Aghori Vimalananda, cujas práticas espirituais despertou seu Kundalini e Aghora trilogia de Svoboda é baseado nele, dito, “Carne, peixe, vinho, grão tostado e sexo são todas as substâncias tóxicas, e efeitos de tóxicos é para estimular os nervos para ser capaz de resistir à força do Kundalini Shakti. Você pode usar álcool e o resto de fazer progresso espiritual rápido só se você souber como usá-los corretamente, caso contrário, você simplesmente liga-se para baixo com mais força para a roda da existência.”

Aghoris eram um grupo poderoso entre os sadhus na Índia, hoje um punhado permanece que levam essa vida incomum. O motivo final para uma Aghori é buscar a libertação deste ciclo infinito de reencarnação e alcançar a salvação.



Enquanto que num ambiente urbano, as pessoas podem ver Aghoris como sádicos que se dedicam a magia negra ou são doentes mentais (o próprio conceito de sádico é derivado de uma visão do mundo judaico-cristã cheia de antagonismos que simplesmente não se aplicam neste caso), os Aghoris têm realmente uma forma mística de transformar a mente em Um, de se conectar com a alma universal, representando um caminho que não só não é significativo para todos, como não tem o mesmo significado para todos! 





Considerações
 
Por hora, caro leitor, eu o convido a ficar com a imagem dos Aghori na mente para reflexão. Um povo religiosamente proscrito? Sim. Com hábitos sanitários perigosos? Sem dúvida. Mas qual é o valor prático disso? Note que eu ainda não me atenho ao valor místico, mas o prático mesmo. Quanto sabe de anatomia um Aghori em relação a um hindu que nada faz além de orar? Qual tem melhor sistema imunológico? Qual tem medo do escuro? Qual é o real valor da contaminação física e moral a que se expõem os praticantes? E talvez a questão mais pertinente de todas: você se imagina um Aghori ou ficaria satisfeito em conhecer um curandeiro Aghori quando um familiar adoecesse?


terça-feira, 30 de maio de 2017

Sobre o termo "Possessão"

O fenômeno conhecido como possessão tem sido, até pouco tempo, um fenômeno comparativamente raro na prática mágica ocidental. Isso possivelmente se deve a associação feita no século dezenove da prática com alguns elementos grosseiros da mediunidade e desentendimentos gerais da aproximação ocultista africana como o Vodu e o Candomblé. De fato até a recente popularização do conceito como  magia étnica e xamãnismo moderno a possessão foi desprezada como simples práticas religiosas primitivas. A situação só começou a se inverter em meados de 1950, quando o teosofista Michael Bertinaux ganhou fama no meio ocultista por sua obsessão com o vodu , inspirados pelos filmes de zombie que assistiu quando criança nas décadas anteriores.

Também é verdade que a experiência de possessão é difícil para muitas pessoas, particularmente as condicionadas pelo arcabouço europeu. Possessão requer desinibição, habilidade de entrega e desprendimento, coisas que via regra geral, por muito tempo foram socialmente negadas ou davam a pessoa a auto-imagem negativa de "estar fora de controle."
Nos últimos anos do século XX, entretanto a situação se inverteu e a prática tanto ocultista como religiosa ganhou uma grande abertura para a possessão, na qual o objetivo dos rituais é sempre
fazer dos seres humanos veículos de manifestação para entidades com propósitos de encantamento, iluminação ou oracular. O uso de trabalhos de possessão é particularmente forte nas tradições Africanas, mas também está presente hoje na Wicca, nas tradições nórdicas e entre magistas do caos. Uma vez que tive muitas oportunidades de participar inúmeras vezes de trabalhos deste nível, tanto como veículo como celebrante, faço agora uma análise e abro discussão quanto as experiências de possessão.
Possessão é um fenômeno genérico e uma das mais populares formas de união com divindades na história humana.



Rituais de possessão já eram comuns no antigo Egito e tem sido registrado como uma das praticas cabalistas mais antigas da história sempre que o estudo intelectual foi acompanhado por experiências confirmatórias. Na Grécia antiga a prática também era comum, como no conhecido exemplo do Oráculo de Delfos e na prática teurgica em geral. Nos cultos afro-americanos a possessão possui um papel central, seja no Vodu, na Santeria, na Umbanda ou no Candomblé assim como nos cultos ameríndios e no xamanismo na América e na Australásia.

Apesar da ligação atual da palavra possessão, com manifestações diabólicas, no inicio do cristianismo ela era também uma manifestação bastante comum da fé, particularmente como expressão do espírito santo no "falar línguas" que permanece popular até hoje nos cultos pentecostais. No livro de Atos, Paulo de Tarso relata sua dramática experiência no caminho até Damasco na qual é subitamente tomado por possessão divina. Preocupado com a popularidade do fenômeno, Paulo acreditou ser necessária cautela entre os cristãos estas experiências em I Corintians, 14,23:

"Se, pois, toda a igreja se congregar num lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou infiéis, não dirão porventura que estais loucos?" e "Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas." Mas faça-se tudo decentemente e com ordem.”

Em geral, existem duas rotas para o êxtase da possessão. A primeira é solitária e a segundo baseada em grupos. Possessão solitária é o resultado de isolamento, meditação, orações e rituais, no qual o celebrante consegue unir-se a entidade escolhida. A base deste processo é eloquentemente descrita por Steve Wilson em seu artigo Results Mysticism em C.I 15. Esse é o caminho do misticismo solitário tal qual o de São João da Cruz. Dentro do contexto monoteista esta prática não é livre de perigos. O místico Sufi, Al'hallaj, anunciou que era "Deus" e consequentemente foi executado por seus irmãos de Fé. Os místicos cristãos da Idade Média, frequentemente andavam na corda banba da heresia ao dedicar-se ao misticismo solitário. Da mesma forma a possessão solitária é uma prática bem conhecida e desejável na Bhakti Yoga indiana.

Os elementos chaves desta experiência são facilmente identificados. Inicialmente trata-se do simples isolamento das demais pessoas. Isolamento, em diversos graus contribuem para a perda do sentido do Ego e causa grande stress na mente humana. Em segundo lugar, o efeito é potencializado por diversos graus de abstinência, jejum, vigílias, castidade sexual, auto flagelação, etc... hábitos comuns não apenas entre monges cristãos, mas também entre xamãas e algumas vertentes do tantrismo. Em terceiro lugar, a constante concentração no objetivo do isolamento preenche a mente do operador com todo o cenário mental necessário a possessão. O místico incessantemente direciona sua atenção a união com a divindade por meio de orações meditações e rituais. O Liber Astarte, de Crowley é um ótimo exemplo deste tipo de trabalho. Outro exemplo clássico é o popular sistema de Abra-Melin, o mago; caso sua criação o teha levado a adoração única de Jehovah. O diário de Abra-Melin, publicado por William Bloom é uma fascinante instrução de 'diminuição perante deus', na qual ao final, o magista some e tudo o que resta é a divindade. Crowley, por sua vez estava muito mais inclinado a deixar "deus" entrar pela porta dos fundos, como demonstra os rituais de sodomia passiva do livro acima citado.

Mas é ao ritual de possessão orientado para grupos que dedicarei minha atenção maior neste artigo, uma vez que esta e a modalidade mais comum e freqüente, tanto entre ocultistas como entre religiosos. Nas religiões, em geral trata-se de um extremamente efetivo validador de crenças. E esta era precisamente a preocupação de Paulo quanto ao fenômeno de 'falar em línguas'. Sendo ele próprio um intelectual convertido, muito o preocupava o fato da possessão produzir uma fervorosa, emocional e acrítica forma de crença.

Desinibição

A habilidade de perder o controle é decisiva para a experiência de possessão. Tenho visto pessoas que ao participar de uma primeira manifestação, claramente abandona, o transe quando suas inibições o alertam quanto a comportamentos da entidade que entrem em conflito com sua personalidade. Expectativas sobre como devemos nos comportar, mesmo em espaço ritual devidamente consagrado muitas vezes criam uma barreira difícil de transpor para muitas pessoas. Por outro lado, indivíduos que carecem de carisma e confiança muitas vezes entram em transe rapidamente, talvez porque a experiência de possessão dê aos participantes "permissão" para agirem de modo não convencional. Como disse, um importante mestre Vodu, S.E. Simpsons  no livro Religious Cults of Caribbean: Trinidad, Jamaica & Haiti, 1970: Aquilo que uma pessoa tem medo de fazer, ela faz quando possessa."



Permissão para agir de maneira apropriada a Deus, é sancionada e oficializada no contexto do ritual de possessão, tanto pelos celebrantes como pela audiência. Entretanto em rituais modernos, os limites do que é ou não permitido nem sempre estão bem definidos.  Antropologicamente, uma pessoa que passe por possessão de uma entidade está "fora de jogo", e alguns atos de violência e lascívia são aceitos, e algumas vezes esperado. Ao ensinar o "truque" dos rituais de possessão, a mensagem principal a ser passada é que o individuo nunca é responsável pelo comportamento do espírito. Uma vez que isso seja entendido por todos os participantes a insegurança e a inibição desaparecem por completo.



Efeitos Coletivos na Possessão


Deve ser entendido que possessão não é uma simples questão de entidade e veículo, mas uma experiência que emerge da total interação dos presentes. De certa maneira, possessão é uma forma de teatro. Certamente o leitor já se deparou com atores descrevendo suas experiências em termos de serem possuídos pelo personagem. Segundo o artigo sobre possessões cerimoniais de Deren e Seabrok, qualquer apresentação que envolva a interação entre atores (possuídos), audiência, equipe de apoio e Mestre de Cerimônias recria com perfeição uma experiência de possessão. De particular interesse é o papel de Mestre de Cerimônias ou Sacerdote.


Kheith Johnstone (Impro, 1981) observou que e, um ritual Vodu, o mestre de cerimônias possui um alto status e tratado indulgentemente pelos participantes possuídos, que frequentemente exibem comportamento jocoso e infantil. Outra analogia poderosa é a idéia do Mestre de Cerimônias como 'apresentador' levando o possesso ao êxtase da gnosis e prendendo a atenção da audiência. Não existe distensão quanto a isso entre uma capela vodu e uma seção do descarrego neo-pentecostal.


Quase sempre tenho visto a 'audiência' de um processo de possessão, parada estática ao redor do possuído e ocasionalmente sendo repreendida pelo espírito por sua falta de entusiasmo e participação. Ritos de evocação e invocação são muito semelhantes em relação a este quesito. Em minha experiência, o sucesso na materialização de espíritos goéticos dependem principalmente do espaço ritual, do cenário montado e da parafernália utilizada. Da mesma maneira uma boa possessão exigirá um contexto óbvio de possessão familiar a todos os participantes. Expectativas conflitantes frequentemente resultam em resultados que também variam com a intenção dos expectadores.Um bom exemplo de minha própria experiência foi um trabalho no qual uma sacerdote foi claramente designada para uma abertura ritual de uma cerimônia orgástica. A personagem escolhida foi Iustina, uma derivação de uma personagem dos trabalhos do Marquês de Sade. A entidade, diferente da personagem deliberadamente desejava quebrar qualquer aura de virtuosidade vitoriana. Durante o trabalho, a possessa se comportou como a justine do livro, apesar de não ser o que a sacerdote tinha em mente no começo.

Isto, obviamente, não é um problema em cerimônias nas quais toda a assembléia sabe o que esperar da entidade em manifestação. William, Sargant conta um caso de um ritual vodu do qual foi testemunha no Haiti, onde duas garotas foram simultaneamente possuídas por Ghede, um loa conhecido por ser sexualmente ávido" O rito terminou com um colapso emocional das duas participantes caídas no chão. Sargant prossegue e comenta sobre um grupo que ficou de tal forma entusiasmados com o episódio e as duas garotas e que antes estavam tão quietos e tímidos que ele não tinha na memória qualquer participação anterior dos mesmos. Ele notou que as únicas pessoas que ficaram irritadas com o episódio foram os namorados das garotas, mas que eles não podiam dizer nada, pois se tratava de uma manifestação de Ghede. Este é um ponto importante. Em muitos cultos voltados a possessão, existe um entendimento tácito de que o que quer que o possuído faça, é uma conseqüência da entidade que a possui, e ela portanto está isenta de responsabilidade. Não apenas isso, mas depois de sair do transe, muitas vezes sequer é comentado com a pessoa como ela se comportou.


Uma coisa que me intriga é como o tamanho de um grupo influência no trabalho de possessão. O tamanho da assembléia sempre influencia na profundidade do transe por parte dos possuídos. Um pequeno trabalho, em um grupo fechado permite uma maior atmosfera de confiança e relaxamento na qual a possessão acontece. Entretanto, grandes grupos, particularmente os de trabalho frenético com luzes estroboscópicas e danças e gritos em massa, permite os celebrantes atingir níveis profundos de possessão de forma relativamente rápida. Também pelo fato do veículo da possessão não ser o foco das atenções e estar relativamente anônimo a excitação causada é mais elevada.

Inibição Transmarginal


No livro 'A Mente Possuída" William Sargant examina a experiência dos trabalhos de possessão. Ele acredita que a chave para se entender o fenômeno está nas respostas anormais ao stress extremo identificado por Pavlov como Inibição Transmarginal Sargant descreve a reação como tendo três estágios: O Equivalente, o Paradoxial e o Ultraparadoxal.

O Estágio Equivalente se caracteriza pela resposta na qual a reação do indivíduo, enfraquece e fortalece o estímulo ao mesmo tempo. Em outras palavras, uma pessoa sofrendo de depressão pode reagir a experiências significantes ou triviais de uma mesma maneira.

A fase Paradoxal ocorre quando o estímulo produz respostas positivas mais fortes do que o estímulo. Por exemplo quando uma pessoa em depressão não reage quando verbalmente agredida mas pode ser irritada por uma ordem gentil.

A terceira fase, a Ultraparadoxal é caracterizada pelo aparecimento de respostas diametralmente opostas as previamente condicionadas pelo hábito, quando então novas crenças e comportamentos são implantados. Sargant também nota outro fenômeno relacionado a esse estado. Segundo ele, a fase ultraparadoxal aumenta a sugestionabilidade a crenças e estimula o que normalmente não seria notado. O isolamento e inibição de certos pensamentos e comportamentos guardados na memória vêem a tona, e o 'colapso da inibição' toma conta do comportamento habitual.

Sargant encara a possessão em termos antropológicos. Ele aponta que a possessão é uma experiência catártica de ligação com o sobrenatural e nota que em algumas sociedades possessão quando provocada por danças, percussão e cantos usualmente serve como válvula de encape a tensão acumulada dos participantes citando para isso seu próprio trabalho com pacientes sofrendo de choque pós traumático. Sargant e seus colegas deliberadamente colocam seus clientes em situações de êxtase onde revivem o episódio traumático e o alteram no momento do colapso. Posteriormente o próprio trauma é superado por meio desta dinâmica.


O que isso tem haver com possessão? De minha própria experiência eu posso confirmar que possessão é certamente  uma experiência catártica. Intensa atividade psicológica, espasmos musculares, hiperventilação. etc... seguido de grande alívio, frequentemente mais intenso do que as técnicas usuais de relaxamento. Outro ponto interessante é a perda de memória que segue o estado de possessão. Como foi dito acima isso tudo já está amplamente documentado, de sessões de hipnose a cultos de vodu. Existem indícios entretanto que a perda de memória é diretamente proporcional a expectativa do grupo. Em alguns cultos, é um artigo de fé que quando o deus se manifesta, toma completamente o lugar da "alma" humana. Em geral podemos dizer que a possessão se dá de certa forma gradualmente, o que resulta em perdas parciais e totais de memória a medida que a entidade toma lugar do indivíduo.


Sargant também reconhece a importância da atmosfera do grupo em criar um espaço onde a possessão possa ocorrer.Ele observa que o efeito de uma cerimônia de possessão possui sucesso na medida em que leva seus celebrantes a um estado crescente de sugestionabilidade. Batidas rítmicas, danças frenética e cantoria são os três meios mais populares na realização de uma experiência deste tipo, para a qual os magistas modernos adicionaram luzes estroboscópicas e efeitos sonoros.


O uso mágico de máscaras


O uso de máscaras e outras indumentárias é um importante recurso para possessões. Em alguns cultos, quando o celebrante começa a demonstrar sintomas de possessão, a entidade encarnada é reconhecida pelos sacerdotes por meio de certas indumentárias que caracterizam certas deusas ou deuses. Na abordagem ocidental as vezes é necessário que o veículo humano reconheça a si mesmo como canal de manifestação antes que a possessão ocorra, recorrendo-se assim por meio de vestimentas e acessórios adequados. Na magia contemporânea o veículo de possessão dos deuses tende a ser selecionado previamente ao ritual ao invés das encarnações espontâneas que ocorrem por exemplo nas cerimônias vodus pelos loas ou nos cultos pentecostais pelo Espírito Santo. Máscaras são úteis também pois conferem ao usuário um grau a mais de anonimato.


As máscaras africanas por exemplo são usadas em diversos cultos e seus usuários automaticamente apresentam o comportamento dos deuses e entidades por elas representadas. Outro ponto positivo para as máscaras é o de não permitir indefinições ambigüidades a respeito da entidade, como foi apontado acima, pois um deus pode ser muito bem definido por uma máscara específica conhecida pelo grupo. Esse pode entretanto mão ser o caso quando os deuses não são conhecidos, não foram reforçados por qualquer tradição da qual os celebrantes façam parte, ou mesmo quando nunca foram devidamente rotulados, como no caso de Baphomet.

Efeitos Colaterais da Possessão

Em um contexto religioso a experiência da possessão é freqüentemente usada para validar o sistema de crenças de onde nasceu a entidade em questão. Isso pode ser bastante problemático do ponto de vista mágico onde certas crenças inabaláveis não são vistas sob a mesma luz e têm bem menos utilidade e valor. Enquanto no espaço ritual é importante ter fé absoluta na experiência, mas a continuidade de uma crença tão forte fora da câmara ritual pode ser extremamente prejudicial. Isto se torna especialmente importante no caso de rituais de possessão realizados por magos caóticos.  Com freqüência ouço sobre experiências de possessão espontâneas em trabalhos oráculares ou de iluminação, por magos que não realizaram o banimento adequado posteriormente. Em um contexto de crença única, é assumido que o resultado de uma possessão confirma as crenças dos participantes na entidade. No caso da magia caótica, onde a crença é contextual a fé e consequentemente a entidade devem ser abandonadas tão cedo a cerimônia termine.

O segundo problema relativo a possessão é sobre o conhecimento e habilidades advindo da entidade. Pode acontecer de uma entidade se manifestar em um veículo mal preparado. Por mal preparado, eu quero dizer tanto quanto a conhecimentos mitológicos, simbólicos como comportamentais. Isso é particularmente relevante quando consideramos entidades com conhecimentos em áreas específicas. Em culturas orientadas a possessão, como os índios latino-americanos, é comum que entidades curadoras se apossem apenas de curandeiros. Tornar-se-ia muito difícil para alguém sem conhecimentos em áreas específicas comportar-se coerentemente com o espírito de tal entidade. Um problema semelhante acontece em indivíduos sem experiência em possessão que não possuirão a habilidade necessária para entregar a mensagem da entidade, novamente, a habilidade de desinibição, como já discutido mostra-se muito importante.

Em terceiro lugar, existe um problema de fixação. Alguns magos tornam-se viciados em manifestar certos personagens, especialmente em se tratando do comportamento e trejeitos de alguma entidade. Quando isso acontece podemos dizer que deixa de se tratar de um caso de possessão e passa a ser um reforço do próprio ego frente uma audiência. Isso pode resultar em manias obsessivas, com um mesmo estilo de entidade dominando todo o repertório do mago até o ponto em que se torna muito difícil outras entidades se manifestarem. O sinal mais claro de que isso está acontecendo é quando as crenças e  comportamentos do possuído parecem não variar muito mesmo com entidades bem diferentes. Em geral trata-se de uma grande insegurança por parte do veículo de "perder o controle" e deixar as coisas acontecerem livremente.

Um quarto problema trata-se da persistência da entidade em permanecer no veículo mesmo após o final do ritual. Não é difícil que indivíduos continuem sob influência mesmo depois de um bom tempo transcorrido. Alguns veículos mantêm a possessão por horas, ou mesmo dias. Em um contexto religioso este processo culmina em algum tipo de conversão. No seu modelo de possessão Sargant relata que isso freqüentemente ocorre quando a possessão não é finalizada com o extravasas da tensão acumulada e assim nada marca psicologicamente o final do ritual.

Todos os que quiserem trabalhar com rituais de possessão devem ter estes conselhos em mente. E todos os riscos apontados podem ser perfeitamente evitados seguindo a salutar prática ocultistas de iniciar e terminar todas as cerimônias com alguma espécie de ritual de banimento.

Treinamento para Possessão


Como muitos outros tipos de práticas mágicas, a possessão é um processo a ser aprendido. Quando um individuo experimenta a possessão pela primeira vez, isso pode ter algumas conseqüências significativas em sua forma de ver o mundo. A mudança pode ocorrer gradualmente ou de uma hora para outra ou em algum momento especifico do ritual. Dependendo da resistência psicológica, pode ser um processo um tanto sofrível. Sargant nota que quanto mais uma pessoa resiste a se entregar a possessão, mais intensa a experiência final acontece. Da mesma forma eu percebi em minhas próprias experiências que sempre que, conscientemente ou não, e u tentei limitar o estado de possessão, ele paradoxalmente acaba sendo muito mais intenso do que eu esperava. Com prática é possível atingir o estado desejado de maneira relativamente rápida.

É importante lembrar alguns elementos chaves da comuns a qualquer ritual de possessão. Um aquecimento com algum ritual de banimento pé sempre benéfico ao evento principal pois ajuda os celebrantes a focarem a atenção na entidade a ser manifestada. O uso de técnicas gnosis sensórias, como dança, música, cheiros permite que a percepção seja inflamada com a imagens relacionadas a entidade. A possessão pode ser espontânea ou programada, mas não deve ser encorajada a manifestação de entidades que não foram chamadas, nas palavras de Sargant, "Cristãos Pentecostais nunca serão possuídos pela Deusa Kali". Como dissemos, o comportamento de uma pessoa possuída é sempre um retrato fiel do que Sargant chamou de Inibição Transmarginal.  Em outras palavras deuses são deuses e não gostam de receber ordens ou serem controlados. Por este motivo Keith Johnstone notou uma certa indulgência dos sacerdotes com relação e entidades que não querem partir. Isso pode ser resolvido ao colocar o veículo em um nível tão grande de excitação que culmina em exaustão e abandono do corpo por parte da entidade.

Conclusão


Possessão provou para mim ser uma poderosa ferramenta par ao trabalho mágico. Pode ser usado com fins de oráculo, como faziam os gregos e tibetanos, como consagração de ambientes e instrumentos mágicos, para conseguir alguma ajuda ou propriedade da entidade via contato direto, para alguma transformação psicológica em particular, ou simplesmente para experimentar realidades alternativas. Na construção de trabalhos de possessão pode ser útil examinar inicialmente o paradigma mágico, religioso e cultural onde a possessão ocorrerá. A experiência por si só pode ser relacionada a conversões religiosas, hipnose ou terapia.  Assim como todos os outros tipos de técnicas ocultistas, a possessão requer uma cuidados análise e avaliação de nossos próprios hábitos, crenças e limitações. E, geral, a possessão mágica igualmente útil e divertida, e as vezes é simplesmente assustadora.


Por Phil Hine, Trad. Morbitvs Vividvs