Existe uma semelhança muito peculiar entre os ensinamentos da Magia
do Caos e do budismo. De fato, é possível encontrar similaridades entre
as linhas mais diversas e, a partir disso, montar um estudo comparativo.
Hoje iremos nos ater a analisar o que há de comum entre uma escola da
magia moderna e uma religião oriental.
No caoísmo ouve-se muito o
seguinte lema: “Nada é verdadeiro; tudo é permitido”. Uma das possíveis
interpretações dessa asserção seria a de que uma crença não expressa o
absoluto, mas seria meramente circunstancial, tendo como fim realizar
uma mudança de paradigma para atingir determinado objetivo. E, no
interior do paradigma adotado, você pode realizar todos os experimentos
possíveis, contanto que finja suficientemente bem que aquele processo é
verdadeiro. Essa prática é encontrada no bordão: “Finja, até que
atinja”.
Já no budismo existe o
conceito de “maya”, que seria uma projeção da realidade criada por nós.
Também fala-se em “vipallasa”, que seriam distorções ou alucinações que
podem ocorrer na percepção, na mente ou nas ideias. É dito que não há um
“eu” inerente (anatta) e que a impressão da existência seria uma
constituição de agregados mentais. Contudo, para destruir o karma e
atingir o nirvana, inicialmente você precisa do “paradigma da mente como
identidade” para “aniquilar a mente com a própria mente”.
Essa
concepção é muito semelhante à de que a “crença é uma ferramenta”, usada
na Magia do Caos. Através do “paradigma do palhaço”, poderia ser dito
que bastaria utilizar diferentes crenças como noção do absoluto, para
que se compreenda a não existência da percepção do absoluto, e assim
atingir uma espécie de “nirvana caoísta”.
Mas existe uma
“verdade”, uma “coisa em si” ou um Absoluto, como realidade
transcendental? O caoísta diz: “Eu não me importo!”. Buda diz: “Não
importa” (já que ele estava mais preocupado com as questões de caráter
pragmático do que com a ontologia). Então o caoísta dá um sorriso e
levanta sua mão: “Bate aqui, Buda!”, ou, segundo um famoso trecho do
Principia Discordia:
“GRANDE PATETA: Você é realmente sério, ou o quê?
MAL-2: Às vezes eu tomo como humor sério. Às vezes eu seriamente tomo como humor. De qualquer forma, isto é irrelevante.
GP: Talvez você apenas seja louco.
M2:
Não me diga! Mas não leve meus ensinamentos por falsos só porque sou
louco. A razão de eu ser louco é porque eles são verdadeiros.
GP: Éris é verdade?
M2: Tudo é verdade.
GP: Mesmo coisas falsas?
M2: Mesmo coisas falsas são verdade.
GP: E como pode ser isso?
M2: Eu não sei cara, eu não fiz isso”.
Ou ainda a frase, da mesma obra: “Eu tenho a crença inabalável de que é um erro ter crenças inabaláveis”. Digamos que algumas “crenças temporárias” se tornam úteis para resolver alguns paradoxos.
Segundo
Ajahn Thanissaro, Buda ensinou a doutrina do “não-eu” não como uma
afirmação metafísica, mas como uma estratégia para não se identificar
com os fenômenos. Conforme demonstra o seguinte trecho do Samyutta
Nikaya, Ananda Sutta:
“Tendo sentado a um lado, o
errante Vacchagotta disse ao Abençoado, ‘Então, Venerável Gotama, existe
um eu?’ Quando isso foi dito, o Abençoado ficou em silêncio. ‘Então,
não existe um eu?’ Uma segunda vez o Abençoado ficou em silêncio.
Então o errante Vacchagotta levantou-se do seu assento e partiu.
Em
seguida, não muito tempo após o errante Vacchagotta ter partido o
Venerável Ananda disse ao Abençoado, ‘Porque, senhor, o Abençoado não
respondeu quando foi perguntado pelo errante Vacchagotta?’ – ‘Ananda, se
eu, tendo sido perguntado pelo errante Vacchagotta se existe um eu,
tivesse respondido que existe um eu, isso estaria conforme com aqueles
brâmanes e contemplativos que são os expoentes da doutrina eternalista
(isto é, a idéia de que existe uma alma eterna). E se eu… tivesse
respondido que não existe um eu, isso estaria conforme com aqueles
brâmanes e contemplativos que são os expoentes do niilismo (isto é de
que a morte é a aniquilação da experiência). Se eu… tivesse respondido
que existe um eu, isso seria compatível com o surgimento do conhecimento
de que todos os fenômenos são não-eu?
‘Não, Senhor.’
‘E
se eu… tivesse respondido que não existe um eu, o confuso Vacchagotta
ficaria ainda mais confuso: “Aquele eu que eu costumava ter, agora não
existe?”
Então, note que, embora a noção de um “eu” possa
aprisionar, ela é necessária exatamente para que, através do nosso “eu”
perceba-se a noção do “não-eu”, e, a partir disso, aniquile-se tanto a
noção do “eu” como “não-eu”, como verdade.
No caoísmo, embora a
noção da “crença” possa aprisionar, ela é necessária para que através da
adoção de diferentes crenças obtenha-se a percepção de que a crença em
si não é verdade e nem mentira, mas uma percepção mental para o
entendimento de que “Nada é verdadeiro” (a crença é uma ferramenta); e
“Tudo é permitido” (expansão da nossa interferência mágica mental e
material através da manipulação contínua da visão da realidade).
No
budismo também existe a marca da existência chamada “anicca”
(impermanência ou inconstância), que reflete a realidade do samsara, ou a
roda do karma. No caoísmo, mergulha-se nessas diferentes impressões da
realidade através da mudança constante de paradigmas.
Poderíamos
dizer então que tanto budismo como caoísmo chegaram a conclusões muito
semelhantes acerca da realidade e encontraram soluções diferentes. Em
relação à primeira parte do lema de Hassan-i Sabbah, “Nada é
verdadeiro”, ambos concordam, no que concerne a nossas impressões da
verdade. Quanto ao “Tudo é permitido” é uma estratégia caoísta de
permanecer sempre saltitando de um paradigma a outro e, com essa
libertação da mente, obter sabedoria e poder.
Ambos utilizam bons
truques. Só podemos perceber a realidade através da limitação do nosso
aparelho cognitivo, como se fossem óculos que mostrassem uma verdade
embaçada. A solução do caoísta foi utilizar óculos de cores diferentes o
tempo todo, para nunca se esquecer que estamos sempre sentindo o mundo
com a limitação de nossos sentidos, e que nossas crenças não representam
a totalidade da existência. Já o budista usa o método de utilizar a
ilusão dos próprios óculos para tentar se livrar deles – os caoístas
achariam isso meio chato e sem graça, já que eles consideram que óculos
são muito chiques, especialmente os coloridos. Então por que parar de
usá-los? Eles preferem rabiscar diferentes desenhos na tela em branco em
vez de rasgá-la. E, para quem não gostou de nenhuma dessas opções,
sempre é possível comprar um quadro pronto na loja, para decorar sua
belíssima parede.
Tantra e o Caminho Aghori
… para a não diferenciação
Será que há diferença entre iluminação e
não-diferenciação?
O objetivo do Tantra é Laya, o retorno ao estado de
existência indiferenciada.
A maior parte dos ocidentais ao ouvir a palavra tantra faz o click para um
conceito de “sexo tantrico”. Mas apesar de uma relação energética e filosófica
diferente do comum ocidental para com o sexo, há bem mais que apenas
associações a sexualidade na filosofia ancestral tântrica. É uma filosofia de
vida e relação com o ciclo da vida e da morte, sobre sexualidade sim – força
matriz, criativa, portal poderoso, acto sagrado de fusão e transcendência e
dissolução, revelação e união, Amor e magia… (para não confundir com uma
possibel banalização de sexo) Tantra comporta uma visão do Universo contendo
uma relação filosófica,intelectual, física, matérica e espiritual entre criação
e destruição – mas não só sobre sexo – a não ser que se veja sexo como portal
prático metafórico de rendição à força imanente de vida-morte-vida como
processo do que é este planeta. O que eu sinto é que a informação sobre Tantra
que vem até ao ocidente é basicamente sobre sexo porque depois de uma cultura
religiosa judaico-cristã e patriarcal sexualmente repressora como tivémos na
Europa, ficámos ávidos de informação sobre sexo, o grande tabu, que reprime
esta sociedade até aos dias de hoje. E reprime de tal forma que passámos do
secretismo para o pólo inverso, obcessivo, que se mostra claramente numa
profusão explosiva de sexo como a coisa que mais vende neste mundo, que tanto
se quer e até se tem mas tão pouco se sente e compreende, confundindo-se até
sexo (acto) com sexualidade ou energia sexual, mas, não vou por aqui. Enfim,
Tantra tem muito que se lhe diga, é toda uma filosofia de uma cultura ancestral
que tinha uma visão do mundo não comparável nem perceptível à visão
judaico-cristã que formatou os olhos da nossa cultura com noções de matéria
como diferente espírito, bom oposto de mau… Mas, ainda tentando explicar numa
perspectiva judaico-cristã: para compreender e viver o Tantra é preciso ser um@
Sant@.
Não é que seja fácil tirar palas dos olhos, ou
apercebermo-nos que as temos, mas sentir gratidão e leveza por cada momento em
que estabelecemos uma relação, seja ela entre duas ideias, um modo de ver que
de repente se desvanesce dando espaço a outro, é sobre experienciar e
compreender para além de antagonismos e dicotomias.
Uma semente precisa de terra escura e húmida, terra
que um dia foi já matéria apodrecida, para poder germinar e seguir o seu curso
de vida alimentando-se de Sol. Uma planta sabe sempre que para chegar com os
braços aos céus é necessário ter raízes bem profundas no mais escuro dos
infernos. E sabe que não é uma questão nem de escolher entre um Pai céu ou uma
mãe Terra, entre a luz ou a escuridão, sabe que não tem de pedir favores aos
anjos nem aos demónios, sabe que ninguém a espia ou controla, que a vida é o
que é e a morte faz parte dela. E dá, tudo o que tem, tudo o que é, para o
melhor de todos, porque não há diferença entre mim e o todo, e tudo o que eu
faço faz tudo o que há. O Tantra, ao contrário da maioria das correntes do
hinduísmo que dizem que esta realidade é uma ilusão, diz que Tudo o que existe
é o que existe aqui. E é com isso que lida, como a semente que germina quando
tem de ser, e cresce como o que há, seja o solo rico ou pobre em nutrientes.
É óbvio que há por aí muito romantismo de ideias em
relação ao Tantra, mas nao quer dizer que estejam nem certas, nem erradas –
talvez seja apenas mais uma visão incompleta, que se foque apenas numa parte do
Tantra (afinal uma filosofia milenar complexa e experiencial mais que teórica),
mas enquanto que incompleta há que entender que a ideia que temos do Tantra é
também distorcida, vista por lentes menos adequadas, pelas lentes da nossa
cultura e dos nossos filtros emocionais e intelectuais, que vão sempre
interpretar de acordo com aquilo que conhecem, com ideias e práticas que nos
são comuns, e não raras vezes com aquilo que queremos que seja (numa cultura
reprimida a nível emocional, sexual e social parece-me bastante óbvio que se vá
à procura daquilo que não se tem – e aí aparece o Tantra, dando uma óptima
desculpa para a libertação sexual como causa espiritual, mas ficando-se muitas
vezes apenas por aí não dando sequer um vislumbre da filosofia transformadora e
libertária de vida por detrás dele, da Interligação entre tudo, e da relação
entre responsabilidade pessoal, social e emocional e o paradigma biológico base
à vida neste planeta, que é um de interdependência das acções, para além de
ideias de bem e de mal, a consciência pela acção. Um dos motivos pelo qual
temos apenas um vislumbre do que vem verdadeiramente atrás de filosofias
orientais que não vivemos, é porque para compreender uma cultura, é preciso
mais que ler sobre ela, é preciso vivê-la, e não cair no erro da rotulação
fácil, seja ela positiva ou pejorativa, e não cair no velho hábito do homem
europeu: simplificar e categorizar, classificar e guardar em arquivo, o que é
muito útil muitas vezes, mas há bem mais no inifinito vão do espaço do que
aquilo que se consegue separar e categorizar. Nem um cientista reduccionista
materialista gostaria de que o cosmos fosse um lugar fácil de rotular (aí
acabaria a sua própria vontade, a ânima que move internamente como força
misteriosa cada célula do cientista a investigar para tentar perceber o Cosmos)
com os seu antagonismos primários mas redutore, incompatíveis,
complementaridades indecifráveis. Afinal, o que é a sombra se não o outro lado
de um abraço do Sol – da luz – sobre a matéria negra, matéria negra sem a qual
não haveria nem luz para a iluminar, nem vida para com ela se relacionar.
Uma pequena amostra da crença Aghori no video abaixo.
desafiando as crenças Induístas
Visitar a índia (não digo visitar o resort, mas a
índia e as suas vidas) ajuda a perceber um pouco mais quando se tenta conhecer
uma filosofia que de lá veio. E porquê? Porque essa filosofia não estava nos
livros apenas, mas enraizou-se por muito tempo na vida das pessoas, tornou-se
gesto e hábito. E pela experiência directa do que resta destes gestos e
hábitos, pela relação com o lugar, os pés no chão, o ar que respiramos
partilhado, e a boca a comer do mesmo prato que acredito que se conhece mais
uma teoria, ou que está por detrás dela. E para um ocidental cheio de conceitos
sobre bonito e feio, limpo e sujo, deus e o diabo não há nada como quando vamos
à Índia e nos perdemos na imensidade do país e das suas poli-culturas agora
abafadas senão destruídas pela monocultura do modo de vida americanizado mas
ainda existentes, e os nossos sentidos entram em choque – não conseguindo
relacionar no mesmo plano o cheiro a incenso com o cheiro a esgoto que se sente
no mesmo local, a visão de mandalas de flores super cuidadas no tempo cuja
entrada está decorada com velhinhas leprosas andrajadas que às vezes nem
percebemos se estão vivas ou mortas. É ir ao Ganges e ver que as ofertas se
transformam em lixo no curso do rio em segundos, o mesmo rio sagrado da Deusa
Ganga tão adorada, o mesmo rio para onde vai todo o esgoto, onde se banham as pessoas,
onde se bebe a àgua e onde flutuam cadáveres. A índia vivida, para além da
ilusão chique e paradasíaca dos ashrams (que também é uma parte da Índia)
coloca em cheque o nosso intelecto a cada segundo, baralha-nos e destrói tudo
aquilo que achávamos que era ou seria, e no entanto é também isso tudo. Não
tinha pensado nisto antes, mas descobrir os Aghoris é uma ajuda preciosa para
perceber umas quantas ideias fundamentais, e sobre como vivem hoje entre tanto
caos e contradição para os sentidos, os habitantes do continente indiano,
repleto de tantas raízes e rizomas, das suas muitas culturas tão complementares
como misturadas, recriadas, adaptadas e enlamaçadas – crenças e práticas
diárias, formas de ver e de estar indecifráveis para um católico, é a única
coisa que nos pode ajudar a sair do postal para a realidade integral em que
tudo co-existe.
Os aghoris consomem de tudo, mas não são consumistas da forma como nos
relacionamos com consumo no ocidente. Comem de tudo o que consideramos podre ou
mau, mas para eles isso não é profano nem os adoece. Andam nús (o que
consideramos uma forma de desprotecção) mas vestem-se com cinzas (e a verdade é
que as cinzas têm poder anti-bacteriano, limpam e protegem de várias formas, e
de mosquitos também).
Os conceitos viajam o planeta e transformam-se tal
como se transforma a visão deles atravessada pelo tempo, e as práticas que
deles hão-de devenir, mas é bom conhecer a raiz de tudo aquilo que tentamos
abraçar ou cuidar, transformar, desconstruir ou destruir e ignorar até. Para
compreender mais profundamente, e para desconstruir pre-conceitos sejam
eles quais forem, é preciso, como nos mostra um Aghori, e mergulhar mais fundo
naquilo que não tem uma resposta, nem definição, e por isso mesmo não tendo
nada definido abre espaço para a libertação. E nem é simples, ou fácil porque
não é suposto ser nada em concreto – a cada qual o seu caminho – e a verdade é
que isso não se vende, não tem garantias nem traz nada garantido nem nada de
oferta – são caminhos de liberdade, a cada um o seu como bem o entender.
Aghori significa aquele que não tem medo e não
descrimina. Para os Aghori, tudo é sagrado. E isso, é
Tantra.
Caminho de um Aghori para a Iluminação
Crê-se que vão já pelo menos 1000 anos da seita
hindu que desafia as crenças religiosas tradicionais e segue um caminho pouco
convencional, o caminho radical para a iluminação, o Aghoris. A Morte, seu
mestre espiritual; o crematório sua casa e Shiva, seu Deus, o destruidor eca personificação da morte.
Aghoris acreditam que Shiva induziu o melhor e o
pior no mundo, acreditam que nada é profano, e tudo é sagrado para eles. Por
isso, o que as outras seitas hindus consideram inaceitáveis ou tabu, os
Aghoris abraçam – sejam as forças das trevas “ou” impurezas “- os Aghoris
abraçam com a crença de que os leva a um nível de consciência mais elevado.
Vamo-nos aprofundar mais no seu mundo …
Aghoris, os sábios
tântricos da Índia
Eles vestem-se com a mortalha de um cadáver ou
roupas deixadas pela família do morto, vestem-se com as cinzas de cadáveres
como uma proteção contra doenças, meditam sobre um corpo morto e consomem tudo,
desde carne humana ou animal a excreta, urina, álcool – tudo é parte do ritual
Aghora, o que significa, literalmente, não aterrorizante, e Aghoris são seus
praticantes.
O caminho da não-dualidade
Os Aghoris têm que eliminar pensamentos de dualidade entre o puro e o impuro, o bem e o
mal; negar a perfeição de qualquer coisa seria como desrespeitar a sacralidade
da vida em toda a sua manifestação.
Robert Svoboda, um autor americano e
médico ayurvédico em seu livro – Aghora
II: Kundalini, explicado – “O Aghori estabelece para superar as limitações
humanas por quebra internamente todas as restrições, não importa o quão antigo
ou poderoso o tabu, e também através da criação de um corpo / mente que é capaz
de conter emocional, sensoriais e outras experiências que consomem alguém não
devidamente preparado.”
Aghori Rituais
O uso de crânios humanos e Tantra
Uma vez iniciada, o Aghori vai em busca de um
crânio humano ou ‘kapala’, que é um sinal real de um Aghori, para ser utilizado
como uma bacia. Acredita-se que após a morte, o prana ou força da vida do
falecido, se apega no topo do crânio.
Usando mantras e certas ofertas, especialmente
álcool, um Aghori Sadhna convoca o espírito para voltar ao corpo, e ganhar
controle sobre ele, aproveita seus serviços. Aghori sadhana inclui prática tântrica, várias formas de Yoga e meditação.
Svoboda explicou em seu livro, Aghora: Na Mão Esquerda
de Deus: “Aghora é a apoteose do Tantra … cuja divindade suprema é a deusa mãe
…. Tantra tem até agora sido vislumbrado no Ocidente apenas em suas formas mais
vulgares e degradada, promulgado pelo canalhas sem escrúpulos que igualam sexo
com super consciência. Sexo é de fato fundamental para Tantra, a união sexual
cósmica de dualidades universais. O objetivo do Tantra é Laya, retorno do
candidato ao estado de existência indiferenciada.”
Cada Aghori segue diferentes práticas, dependendo
de sua capacidade; o único fator comum é o seu grau de intensidade e
determinação.
Comer carne humana
Durante 12 anos, ele medita em nome do Senhor
Shiva no crematório, considerado um local ideal para adorar Shiva. Eles comem
carne humana, que serve como um lembrete para o Aghori que não existe distinção
entre o bom ou mau, carne humana ou animal. Para eles, tais distinções são
apenas ilusórias, e raramente servem a qualquer propósito no desenvolvimento
espiritual da alma humana. Ele simboliza a transcendência do Ser para uma
realização maior.
Meditando sobre um cadáver
Aghoris realizam um ritual conhecido como Shava
(cadáver fresco) Sadhana, que significa meditar em cima de um cadáver, cantar
mantras para invocar o Smashan Tara (deusa das terras da cremação), que
abençoará a Aghori com poderes sobrenaturais, se o ritual for feito da maneira
correta. Aghoris não temem a morte, eles usam substâncias tóxicas como álcool
ou ganja, antes de realizar um ritual que ajuda-os a superar seus medos e ir
além de seu corpo.
Realização
de um ritual tântrico
O mentor e autor Svoboda, Aghori Vimalananda,
cujas práticas espirituais despertou seu Kundalini e Aghora trilogia de Svoboda
é baseado nele, dito, “Carne, peixe, vinho, grão tostado e sexo são todas as
substâncias tóxicas, e efeitos de tóxicos é para estimular os nervos para ser
capaz de resistir à força do Kundalini Shakti. Você pode usar álcool e o resto
de fazer progresso espiritual rápido só se você souber como usá-los
corretamente, caso contrário, você simplesmente liga-se para baixo com mais
força para a roda da existência.”
Aghoris eram um grupo poderoso entre os sadhus na
Índia, hoje um punhado permanece que levam essa vida incomum. O motivo final
para uma Aghori é buscar a libertação deste ciclo infinito de reencarnação e
alcançar a salvação.
Enquanto que num ambiente urbano, as pessoas
podem ver Aghoris como
sádicos que se dedicam a magia negra ou são doentes mentais (o próprio
conceito de sádico é derivado de uma visão do mundo judaico-cristã cheia de
antagonismos que simplesmente não se aplicam neste caso), os Aghoris têm
realmente uma forma mística de transformar a mente em Um, de se conectar com a
alma universal, representando um caminho que não só não é significativo para
todos, como não tem o mesmo significado para todos!
Considerações
Por hora, caro leitor, eu o convido a
ficar com a imagem dos Aghori na mente para reflexão. Um povo
religiosamente proscrito? Sim. Com hábitos sanitários perigosos? Sem
dúvida. Mas qual é o valor prático disso? Note que eu ainda não me
atenho ao valor místico, mas o prático mesmo. Quanto sabe de anatomia um
Aghori em relação a um hindu que nada faz além de orar? Qual tem melhor
sistema imunológico? Qual tem medo do escuro? Qual é o real valor da
contaminação física e moral a que se expõem os praticantes? E talvez a
questão mais pertinente de todas: você se imagina um Aghori ou ficaria
satisfeito em conhecer um curandeiro Aghori quando um familiar
adoecesse?
O fenômeno conhecido como possessão tem sido, até pouco
tempo, um fenômeno comparativamente raro na prática mágica ocidental. Isso
possivelmente se deve a associação feita no século dezenove da prática com
alguns elementos grosseiros da mediunidade e desentendimentos gerais da
aproximação ocultista africana como o Vodu e o Candomblé. De fato até a
recente popularização do conceito como magia étnica e xamãnismo moderno a possessão
foi desprezada como simples práticas religiosas primitivas. A situação só começou
a se inverter em meados de 1950, quando o teosofista Michael Bertinaux ganhou fama no meio ocultista por sua obsessão com o vodu
, inspirados pelos
filmes de zombie que assistiu quando criança nas décadas anteriores. Também é verdade que a experiência de possessão é difícil
para muitas pessoas, particularmente as condicionadas pelo arcabouço europeu.
Possessão requer desinibição, habilidade de entrega e desprendimento, coisas
que via regra geral, por muito tempo foram socialmente negadas ou davam a
pessoa a auto-imagem negativa de "estar fora de controle."
Nos últimos anos do século XX, entretanto a situação se
inverteu e a prática tanto ocultista como religiosa ganhou uma grande abertura
para a possessão, na qual o objetivo dos rituais é sempre
fazer dos seres
humanos veículos de manifestação para entidades com propósitos de encantamento,
iluminação ou oracular. O uso de trabalhos de possessão é particularmente forte
nas tradições Africanas, mas também está presente hoje na Wicca, nas tradições
nórdicas e entre magistas do caos. Uma vez que tive muitas oportunidades de
participar inúmeras vezes de trabalhos deste nível, tanto como veículo como
celebrante, faço agora uma análise e abro discussão quanto as experiências de
possessão.
Possessão é um fenômeno genérico e uma das mais populares
formas de união com divindades na história humana.
Rituais de possessão já eram comuns no antigo Egito e tem
sido registrado como uma das praticas cabalistas mais antigas da história sempre
que o estudo intelectual foi acompanhado por experiências confirmatórias. Na
Grécia antiga a prática também era comum, como no conhecido exemplo do Oráculo
de Delfos e na prática teurgica em geral. Nos cultos afro-americanos a possessão
possui um papel central, seja no Vodu, na Santeria, na Umbanda ou no Candomblé
assim como nos cultos ameríndios e no xamanismo na América e na Australásia.
Apesar da ligação atual da palavra possessão, com
manifestações diabólicas, no inicio do cristianismo ela era também uma
manifestação bastante comum da fé, particularmente como expressão do espírito
santo no "falar línguas" que permanece popular até hoje nos cultos
pentecostais. No livro de Atos, Paulo de Tarso relata sua dramática experiência
no caminho até Damasco na qual é subitamente tomado por possessão divina.
Preocupado com a popularidade do fenômeno, Paulo acreditou ser necessária
cautela entre os cristãos estas experiências em I Corintians, 14,23:
"Se, pois, toda a igreja se congregar num lugar, e
todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou infiéis, não dirão porventura
que estais loucos?" e "Portanto, irmãos, procurai, com zelo,
profetizar, e não proibais falar línguas." Mas faça-se tudo decentemente e
com ordem.”
Em geral, existem duas rotas para o êxtase da possessão.
A primeira é solitária e a segundo baseada em grupos. Possessão
solitária é o resultado de isolamento, meditação, orações e rituais, no qual o
celebrante consegue unir-se a entidade escolhida. A base deste processo é
eloquentemente descrita por Steve Wilson em seu artigo Results Mysticism em C.I
15. Esse é o caminho do misticismo solitário tal qual o de São João da Cruz.
Dentro do contexto monoteista esta prática não é livre de perigos. O místico
Sufi, Al'hallaj, anunciou que era "Deus" e consequentemente foi
executado por seus irmãos de Fé. Os místicos cristãos da Idade Média,
frequentemente andavam na corda banba da heresia ao dedicar-se ao misticismo
solitário. Da mesma forma a possessão solitária é uma prática bem conhecida e desejável
na Bhakti Yoga indiana.
Os elementos chaves desta experiência são facilmente
identificados. Inicialmente trata-se do simples isolamento das demais pessoas.
Isolamento, em diversos graus contribuem para a perda do sentido do Ego e causa
grande stress na mente humana. Em segundo lugar, o efeito é potencializado por
diversos graus de abstinência, jejum, vigílias, castidade sexual, auto
flagelação, etc... hábitos comuns não apenas entre monges cristãos, mas também
entre xamãas e algumas vertentes do tantrismo. Em terceiro lugar, a constante
concentração no objetivo do isolamento preenche a mente do operador com todo o
cenário mental necessário a possessão. O místico incessantemente direciona sua
atenção a união com a divindade por meio de orações meditações e rituais. O
Liber Astarte, de Crowley é um ótimo exemplo deste tipo de trabalho. Outro
exemplo clássico é o popular sistema de Abra-Melin, o mago; caso sua criação o
teha levado a adoração única de Jehovah. O diário de Abra-Melin, publicado por
William Bloom é uma fascinante instrução de 'diminuição perante deus', na qual
ao final, o magista some e tudo o que resta é a divindade. Crowley, por sua vez
estava muito mais inclinado a deixar "deus" entrar pela porta dos
fundos, como demonstra os rituais de sodomia passiva do livro acima citado.
Mas é ao ritual de possessão orientado para grupos que
dedicarei minha atenção maior neste artigo, uma vez que esta e a modalidade mais
comum e freqüente, tanto entre ocultistas como entre religiosos. Nas religiões,
em geral trata-se de um extremamente efetivo validador de crenças. E esta era
precisamente a preocupação de Paulo quanto ao fenômeno de 'falar em línguas'. Sendo
ele próprio um intelectual convertido, muito o preocupava o fato da possessão
produzir uma fervorosa, emocional e acrítica forma de crença.
Desinibição
A habilidade de perder o controle é decisiva para a
experiência de possessão. Tenho visto pessoas que ao participar de uma primeira
manifestação, claramente abandona, o transe quando suas inibições o alertam
quanto a comportamentos da entidade que entrem em conflito com sua
personalidade. Expectativas sobre como devemos nos comportar, mesmo em espaço
ritual devidamente consagrado muitas vezes criam uma barreira difícil de
transpor para muitas pessoas. Por outro lado, indivíduos que carecem de carisma
e confiança muitas vezes entram em transe rapidamente, talvez porque a
experiência de possessão dê aos participantes "permissão" para agirem
de modo não convencional. Como disse, um importante mestre Vodu, S.E.
Simpsons no livro Religious Cults of
Caribbean: Trinidad, Jamaica & Haiti, 1970: Aquilo que uma pessoa tem medo
de fazer, ela faz quando possessa."
Permissão para agir de maneira apropriada a Deus, é
sancionada e oficializada no contexto do ritual de possessão, tanto pelos
celebrantes como pela audiência. Entretanto em rituais modernos, os limites do
que é ou não permitido nem sempre estão bem definidos. Antropologicamente, uma pessoa que passe por possessão
de uma entidade está "fora de jogo", e alguns atos de violência e lascívia
são aceitos, e algumas vezes esperado. Ao ensinar o "truque" dos
rituais de possessão, a mensagem principal a ser passada é que o individuo
nunca é responsável pelo comportamento do espírito. Uma vez que isso seja
entendido por todos os participantes a insegurança e a inibição desaparecem por
completo.
Efeitos Coletivos na Possessão
Deve ser entendido que possessão não é uma simples
questão de entidade e veículo, mas uma experiência que emerge da total
interação dos presentes. De certa maneira, possessão é uma forma de teatro. Certamente
o leitor já se deparou com atores descrevendo suas experiências em termos de
serem possuídos pelo personagem. Segundo o artigo sobre possessões cerimoniais
de Deren e Seabrok, qualquer apresentação que envolva a interação entre atores
(possuídos), audiência, equipe de apoio e Mestre de Cerimônias recria com perfeição
uma experiência de possessão. De particular interesse é o papel de Mestre de
Cerimônias ou Sacerdote.
Kheith Johnstone (Impro, 1981) observou que e, um ritual
Vodu, o mestre de cerimônias possui um alto status e tratado indulgentemente
pelos participantes possuídos, que frequentemente exibem comportamento jocoso e
infantil. Outra analogia poderosa é a idéia do Mestre de Cerimônias como
'apresentador' levando o possesso ao êxtase da gnosis e prendendo a atenção da
audiência. Não existe distensão quanto a isso entre uma capela vodu e uma seção
do descarrego neo-pentecostal.
Quase sempre tenho visto a 'audiência' de um processo de
possessão, parada estática ao redor do possuído e ocasionalmente sendo
repreendida pelo espírito por sua falta de entusiasmo e participação. Ritos de
evocação e invocação são muito semelhantes em relação a este quesito. Em minha
experiência, o sucesso na materialização de espíritos goéticos dependem
principalmente do espaço ritual, do cenário montado e da parafernália
utilizada. Da mesma maneira uma boa possessão exigirá um contexto óbvio de
possessão familiar a todos os participantes. Expectativas conflitantes
frequentemente resultam em resultados que também variam com a intenção dos
expectadores.Um bom exemplo de minha própria experiência foi um trabalho no
qual uma sacerdote foi claramente designada para uma abertura ritual de uma
cerimônia orgástica. A personagem escolhida foi Iustina, uma derivação de uma
personagem dos trabalhos do Marquês de Sade. A entidade, diferente da
personagem deliberadamente desejava quebrar qualquer aura de virtuosidade
vitoriana. Durante o trabalho, a possessa se comportou como a justine do livro,
apesar de não ser o que a sacerdote tinha em mente no começo.
Isto, obviamente, não é um problema em cerimônias nas
quais toda a assembléia sabe o que esperar da entidade em manifestação. William,
Sargant conta um caso de um ritual vodu do qual foi testemunha no Haiti, onde
duas garotas foram simultaneamente possuídas por Ghede, um loa conhecido por
ser sexualmente ávido" O rito terminou com um colapso emocional das duas
participantes caídas no chão. Sargant prossegue e comenta sobre um grupo que
ficou de tal forma entusiasmados com o episódio e as duas garotas e que antes
estavam tão quietos e tímidos que ele não tinha na memória qualquer
participação anterior dos mesmos. Ele notou que as únicas pessoas que ficaram
irritadas com o episódio foram os namorados das garotas, mas que eles não podiam
dizer nada, pois se tratava de uma manifestação de Ghede. Este é um ponto
importante. Em muitos cultos voltados a possessão, existe um entendimento
tácito de que o que quer que o possuído faça, é uma conseqüência da entidade
que a possui, e ela portanto está isenta de responsabilidade. Não apenas isso,
mas depois de sair do transe, muitas vezes sequer é comentado com a pessoa como
ela se comportou.
Uma coisa que me intriga é como o tamanho de um grupo
influência no trabalho de possessão. O tamanho da assembléia sempre influencia
na profundidade do transe por parte dos possuídos. Um pequeno trabalho, em um
grupo fechado permite uma maior atmosfera de confiança e relaxamento na qual a
possessão acontece. Entretanto, grandes grupos, particularmente os de trabalho
frenético com luzes estroboscópicas e danças e gritos em massa, permite os celebrantes
atingir níveis profundos de possessão de forma relativamente rápida. Também
pelo fato do veículo da possessão não ser o foco das atenções e estar
relativamente anônimo a excitação causada é mais elevada.
Inibição Transmarginal
No livro 'A Mente Possuída" William Sargant examina
a experiência dos trabalhos de possessão. Ele acredita que a chave para se
entender o fenômeno está nas respostas anormais ao stress extremo identificado
por Pavlov como Inibição Transmarginal Sargant descreve a reação como tendo
três estágios: O Equivalente, o Paradoxial e o Ultraparadoxal.
O Estágio Equivalente se caracteriza pela resposta na
qual a reação do indivíduo, enfraquece e fortalece o estímulo ao mesmo tempo.
Em outras palavras, uma pessoa sofrendo de depressão pode reagir a experiências
significantes ou triviais de uma mesma maneira.
A fase Paradoxal ocorre quando o estímulo produz
respostas positivas mais fortes do que o estímulo. Por exemplo quando uma
pessoa em depressão não reage quando verbalmente agredida mas pode ser irritada
por uma ordem gentil.
A terceira fase, a Ultraparadoxal é caracterizada pelo
aparecimento de respostas diametralmente opostas as previamente condicionadas
pelo hábito, quando então novas crenças e comportamentos são implantados. Sargant
também nota outro fenômeno relacionado a esse estado. Segundo ele, a fase
ultraparadoxal aumenta a sugestionabilidade a crenças e estimula o que
normalmente não seria notado. O isolamento e inibição de certos pensamentos e
comportamentos guardados na memória vêem a tona, e o 'colapso da inibição' toma
conta do comportamento habitual.
Sargant encara a possessão em termos antropológicos. Ele
aponta que a possessão é uma experiência catártica de ligação com o
sobrenatural e nota que em algumas sociedades possessão quando provocada por
danças, percussão e cantos usualmente serve como válvula de encape a tensão
acumulada dos participantes citando para isso seu próprio trabalho com pacientes
sofrendo de choque pós traumático. Sargant e seus colegas deliberadamente
colocam seus clientes em situações de êxtase onde revivem o episódio traumático
e o alteram no momento do colapso. Posteriormente o próprio trauma é superado
por meio desta dinâmica.
O que isso tem haver com possessão? De minha própria experiência
eu posso confirmar que possessão é certamente
uma experiência catártica. Intensa atividade psicológica, espasmos
musculares, hiperventilação. etc... seguido de grande alívio, frequentemente
mais intenso do que as técnicas usuais de relaxamento. Outro ponto interessante
é a perda de memória que segue o estado de possessão. Como foi dito acima isso
tudo já está amplamente documentado, de sessões de hipnose a cultos de vodu.
Existem indícios entretanto que a perda de memória é diretamente proporcional a
expectativa do grupo. Em alguns cultos, é um artigo de fé que quando o deus se
manifesta, toma completamente o lugar da "alma" humana. Em geral
podemos dizer que a possessão se dá de certa forma gradualmente, o que resulta
em perdas parciais e totais de memória a medida que a entidade toma lugar do
indivíduo.
Sargant também reconhece a importância da atmosfera do
grupo em criar um espaço onde a possessão possa ocorrer.Ele observa que o
efeito de uma cerimônia de possessão possui sucesso na medida em que leva seus
celebrantes a um estado crescente de sugestionabilidade. Batidas rítmicas,
danças frenética e cantoria são os três meios mais populares na realização de
uma experiência deste tipo, para a qual os magistas modernos adicionaram luzes
estroboscópicas e efeitos sonoros.
O uso mágico de máscaras
O uso de máscaras e outras indumentárias é um importante
recurso para possessões. Em alguns cultos, quando o celebrante começa a
demonstrar sintomas de possessão, a entidade encarnada é reconhecida pelos
sacerdotes por meio de certas indumentárias que caracterizam certas deusas ou
deuses. Na abordagem ocidental as vezes é necessário que o veículo humano
reconheça a si mesmo como canal de manifestação antes que a possessão ocorra,
recorrendo-se assim por meio de vestimentas e acessórios adequados. Na magia
contemporânea o veículo de possessão dos deuses tende a ser selecionado
previamente ao ritual ao invés das encarnações espontâneas que ocorrem por
exemplo nas cerimônias vodus pelos loas ou nos cultos pentecostais pelo
Espírito Santo. Máscaras são úteis também pois conferem ao usuário um grau a
mais de anonimato.
As máscaras africanas por exemplo são usadas em diversos
cultos e seus usuários automaticamente apresentam o comportamento dos deuses e
entidades por elas representadas. Outro ponto positivo para as máscaras é o de
não permitir indefinições ambigüidades a respeito da entidade, como foi
apontado acima, pois um deus pode ser muito bem definido por uma máscara
específica conhecida pelo grupo. Esse pode entretanto mão ser o caso quando os
deuses não são conhecidos, não foram reforçados por qualquer tradição da qual
os celebrantes façam parte, ou mesmo quando nunca foram devidamente rotulados,
como no caso de Baphomet.
Efeitos Colaterais da Possessão
Em um contexto religioso a experiência da possessão é freqüentemente
usada para validar o sistema de crenças de onde nasceu a entidade em questão. Isso pode
ser bastante problemático do ponto de vista mágico onde certas crenças
inabaláveis não são vistas sob a mesma luz e têm bem menos utilidade e valor.
Enquanto no espaço ritual é importante ter fé absoluta na experiência, mas a
continuidade de uma crença tão forte fora da câmara ritual pode ser
extremamente prejudicial. Isto se torna especialmente importante no caso de
rituais de possessão realizados por magos caóticos. Com freqüência ouço sobre experiências de
possessão espontâneas em trabalhos oráculares ou de iluminação, por magos que
não realizaram o banimento adequado posteriormente. Em um contexto de crença
única, é assumido que o resultado de uma possessão confirma as crenças dos
participantes na entidade. No caso da magia caótica, onde a crença é contextual
a fé e consequentemente a entidade devem ser abandonadas tão cedo a cerimônia
termine.
O segundo problema relativo a possessão é sobre o
conhecimento e habilidades advindo da entidade. Pode acontecer de uma entidade
se manifestar em um veículo mal preparado. Por mal preparado, eu quero dizer
tanto quanto a conhecimentos mitológicos, simbólicos como comportamentais. Isso
é particularmente relevante quando consideramos entidades com conhecimentos em
áreas específicas. Em culturas orientadas a possessão, como os índios
latino-americanos, é comum que entidades curadoras se apossem apenas de curandeiros.
Tornar-se-ia muito difícil para alguém sem conhecimentos em áreas específicas
comportar-se coerentemente com o espírito de tal entidade. Um problema
semelhante acontece em indivíduos sem experiência em possessão que não
possuirão a habilidade necessária para entregar a mensagem da entidade,
novamente, a habilidade de desinibição, como já discutido mostra-se muito
importante.
Em terceiro lugar, existe um problema de fixação. Alguns
magos tornam-se viciados em manifestar certos personagens, especialmente em se
tratando do comportamento e trejeitos de alguma entidade. Quando isso acontece
podemos dizer que deixa de se tratar de um caso de possessão e passa a ser um
reforço do próprio ego frente uma audiência. Isso pode resultar em manias
obsessivas, com um mesmo estilo de entidade dominando todo o repertório do mago
até o ponto em que se torna muito difícil outras entidades se manifestarem. O
sinal mais claro de que isso está acontecendo é quando as crenças e comportamentos do possuído parecem não variar
muito mesmo com entidades bem diferentes. Em geral trata-se de uma grande insegurança
por parte do veículo de "perder o controle" e deixar as coisas
acontecerem livremente.
Um quarto problema trata-se da persistência da entidade
em permanecer no veículo mesmo após o final do ritual. Não é difícil que
indivíduos continuem sob influência mesmo depois de um bom tempo transcorrido.
Alguns veículos mantêm a possessão por horas, ou mesmo dias. Em um contexto
religioso este processo culmina em algum tipo de conversão. No seu modelo de
possessão Sargant relata que isso freqüentemente ocorre quando a possessão não
é finalizada com o extravasas da tensão acumulada e assim nada marca
psicologicamente o final do ritual.
Todos os que quiserem trabalhar com rituais de possessão
devem ter estes conselhos em
mente. E todos os riscos apontados podem ser perfeitamente
evitados seguindo a salutar prática ocultistas de iniciar e terminar todas as
cerimônias com alguma espécie de ritual de banimento.
Treinamento para Possessão
Como muitos outros tipos de práticas mágicas, a possessão
é um processo a ser aprendido. Quando um individuo experimenta a possessão pela
primeira vez, isso pode ter algumas conseqüências significativas em sua forma
de ver o mundo. A mudança pode ocorrer gradualmente ou de uma hora para outra
ou em algum momento especifico do ritual. Dependendo da resistência
psicológica, pode ser um processo um tanto sofrível. Sargant nota que quanto
mais uma pessoa resiste a se entregar a possessão, mais intensa a experiência
final acontece. Da mesma forma eu percebi em minhas próprias experiências que
sempre que, conscientemente ou não, e u tentei limitar o estado de possessão,
ele paradoxalmente acaba sendo muito mais intenso do que eu esperava. Com
prática é possível atingir o estado desejado de maneira relativamente rápida.
É importante lembrar alguns elementos chaves da comuns a
qualquer ritual de possessão. Um aquecimento com algum ritual de banimento pé
sempre benéfico ao evento principal pois ajuda os celebrantes a focarem a
atenção na entidade a ser manifestada. O uso de técnicas gnosis sensórias, como
dança, música, cheiros permite que a percepção seja inflamada com a imagens
relacionadas a entidade. A possessão pode ser espontânea ou programada, mas não
deve ser encorajada a manifestação de entidades que não foram chamadas, nas
palavras de Sargant, "Cristãos Pentecostais nunca serão possuídos pela
Deusa Kali". Como dissemos, o comportamento de uma pessoa possuída é
sempre um retrato fiel do que Sargant chamou de Inibição Transmarginal. Em outras palavras deuses são deuses e não
gostam de receber ordens ou serem controlados. Por este motivo Keith Johnstone
notou uma certa indulgência dos sacerdotes com relação e entidades que não
querem partir. Isso pode ser resolvido ao colocar o veículo em um nível tão
grande de excitação que culmina em exaustão e abandono do corpo por parte da
entidade.
Conclusão
Possessão provou para mim ser uma poderosa ferramenta par
ao trabalho mágico. Pode ser usado com fins de oráculo, como faziam os gregos e
tibetanos, como consagração de ambientes e instrumentos mágicos, para conseguir
alguma ajuda ou propriedade da entidade via contato direto, para alguma
transformação psicológica em particular, ou simplesmente para experimentar
realidades alternativas. Na construção de trabalhos de possessão pode ser útil
examinar inicialmente o paradigma mágico, religioso e cultural onde a possessão
ocorrerá. A experiência por si só pode ser relacionada a conversões religiosas,
hipnose ou terapia. Assim como todos os
outros tipos de técnicas ocultistas, a possessão requer uma cuidados análise e
avaliação de nossos próprios hábitos, crenças e limitações. E, geral, a
possessão mágica igualmente útil e divertida, e as vezes é simplesmente
assustadora.