terça-feira, 30 de maio de 2017

Sobre o termo "Possessão"

O fenômeno conhecido como possessão tem sido, até pouco tempo, um fenômeno comparativamente raro na prática mágica ocidental. Isso possivelmente se deve a associação feita no século dezenove da prática com alguns elementos grosseiros da mediunidade e desentendimentos gerais da aproximação ocultista africana como o Vodu e o Candomblé. De fato até a recente popularização do conceito como  magia étnica e xamãnismo moderno a possessão foi desprezada como simples práticas religiosas primitivas. A situação só começou a se inverter em meados de 1950, quando o teosofista Michael Bertinaux ganhou fama no meio ocultista por sua obsessão com o vodu , inspirados pelos filmes de zombie que assistiu quando criança nas décadas anteriores.

Também é verdade que a experiência de possessão é difícil para muitas pessoas, particularmente as condicionadas pelo arcabouço europeu. Possessão requer desinibição, habilidade de entrega e desprendimento, coisas que via regra geral, por muito tempo foram socialmente negadas ou davam a pessoa a auto-imagem negativa de "estar fora de controle."
Nos últimos anos do século XX, entretanto a situação se inverteu e a prática tanto ocultista como religiosa ganhou uma grande abertura para a possessão, na qual o objetivo dos rituais é sempre
fazer dos seres humanos veículos de manifestação para entidades com propósitos de encantamento, iluminação ou oracular. O uso de trabalhos de possessão é particularmente forte nas tradições Africanas, mas também está presente hoje na Wicca, nas tradições nórdicas e entre magistas do caos. Uma vez que tive muitas oportunidades de participar inúmeras vezes de trabalhos deste nível, tanto como veículo como celebrante, faço agora uma análise e abro discussão quanto as experiências de possessão.
Possessão é um fenômeno genérico e uma das mais populares formas de união com divindades na história humana.



Rituais de possessão já eram comuns no antigo Egito e tem sido registrado como uma das praticas cabalistas mais antigas da história sempre que o estudo intelectual foi acompanhado por experiências confirmatórias. Na Grécia antiga a prática também era comum, como no conhecido exemplo do Oráculo de Delfos e na prática teurgica em geral. Nos cultos afro-americanos a possessão possui um papel central, seja no Vodu, na Santeria, na Umbanda ou no Candomblé assim como nos cultos ameríndios e no xamanismo na América e na Australásia.

Apesar da ligação atual da palavra possessão, com manifestações diabólicas, no inicio do cristianismo ela era também uma manifestação bastante comum da fé, particularmente como expressão do espírito santo no "falar línguas" que permanece popular até hoje nos cultos pentecostais. No livro de Atos, Paulo de Tarso relata sua dramática experiência no caminho até Damasco na qual é subitamente tomado por possessão divina. Preocupado com a popularidade do fenômeno, Paulo acreditou ser necessária cautela entre os cristãos estas experiências em I Corintians, 14,23:

"Se, pois, toda a igreja se congregar num lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou infiéis, não dirão porventura que estais loucos?" e "Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas." Mas faça-se tudo decentemente e com ordem.”

Em geral, existem duas rotas para o êxtase da possessão. A primeira é solitária e a segundo baseada em grupos. Possessão solitária é o resultado de isolamento, meditação, orações e rituais, no qual o celebrante consegue unir-se a entidade escolhida. A base deste processo é eloquentemente descrita por Steve Wilson em seu artigo Results Mysticism em C.I 15. Esse é o caminho do misticismo solitário tal qual o de São João da Cruz. Dentro do contexto monoteista esta prática não é livre de perigos. O místico Sufi, Al'hallaj, anunciou que era "Deus" e consequentemente foi executado por seus irmãos de Fé. Os místicos cristãos da Idade Média, frequentemente andavam na corda banba da heresia ao dedicar-se ao misticismo solitário. Da mesma forma a possessão solitária é uma prática bem conhecida e desejável na Bhakti Yoga indiana.

Os elementos chaves desta experiência são facilmente identificados. Inicialmente trata-se do simples isolamento das demais pessoas. Isolamento, em diversos graus contribuem para a perda do sentido do Ego e causa grande stress na mente humana. Em segundo lugar, o efeito é potencializado por diversos graus de abstinência, jejum, vigílias, castidade sexual, auto flagelação, etc... hábitos comuns não apenas entre monges cristãos, mas também entre xamãas e algumas vertentes do tantrismo. Em terceiro lugar, a constante concentração no objetivo do isolamento preenche a mente do operador com todo o cenário mental necessário a possessão. O místico incessantemente direciona sua atenção a união com a divindade por meio de orações meditações e rituais. O Liber Astarte, de Crowley é um ótimo exemplo deste tipo de trabalho. Outro exemplo clássico é o popular sistema de Abra-Melin, o mago; caso sua criação o teha levado a adoração única de Jehovah. O diário de Abra-Melin, publicado por William Bloom é uma fascinante instrução de 'diminuição perante deus', na qual ao final, o magista some e tudo o que resta é a divindade. Crowley, por sua vez estava muito mais inclinado a deixar "deus" entrar pela porta dos fundos, como demonstra os rituais de sodomia passiva do livro acima citado.

Mas é ao ritual de possessão orientado para grupos que dedicarei minha atenção maior neste artigo, uma vez que esta e a modalidade mais comum e freqüente, tanto entre ocultistas como entre religiosos. Nas religiões, em geral trata-se de um extremamente efetivo validador de crenças. E esta era precisamente a preocupação de Paulo quanto ao fenômeno de 'falar em línguas'. Sendo ele próprio um intelectual convertido, muito o preocupava o fato da possessão produzir uma fervorosa, emocional e acrítica forma de crença.

Desinibição

A habilidade de perder o controle é decisiva para a experiência de possessão. Tenho visto pessoas que ao participar de uma primeira manifestação, claramente abandona, o transe quando suas inibições o alertam quanto a comportamentos da entidade que entrem em conflito com sua personalidade. Expectativas sobre como devemos nos comportar, mesmo em espaço ritual devidamente consagrado muitas vezes criam uma barreira difícil de transpor para muitas pessoas. Por outro lado, indivíduos que carecem de carisma e confiança muitas vezes entram em transe rapidamente, talvez porque a experiência de possessão dê aos participantes "permissão" para agirem de modo não convencional. Como disse, um importante mestre Vodu, S.E. Simpsons  no livro Religious Cults of Caribbean: Trinidad, Jamaica & Haiti, 1970: Aquilo que uma pessoa tem medo de fazer, ela faz quando possessa."



Permissão para agir de maneira apropriada a Deus, é sancionada e oficializada no contexto do ritual de possessão, tanto pelos celebrantes como pela audiência. Entretanto em rituais modernos, os limites do que é ou não permitido nem sempre estão bem definidos.  Antropologicamente, uma pessoa que passe por possessão de uma entidade está "fora de jogo", e alguns atos de violência e lascívia são aceitos, e algumas vezes esperado. Ao ensinar o "truque" dos rituais de possessão, a mensagem principal a ser passada é que o individuo nunca é responsável pelo comportamento do espírito. Uma vez que isso seja entendido por todos os participantes a insegurança e a inibição desaparecem por completo.



Efeitos Coletivos na Possessão


Deve ser entendido que possessão não é uma simples questão de entidade e veículo, mas uma experiência que emerge da total interação dos presentes. De certa maneira, possessão é uma forma de teatro. Certamente o leitor já se deparou com atores descrevendo suas experiências em termos de serem possuídos pelo personagem. Segundo o artigo sobre possessões cerimoniais de Deren e Seabrok, qualquer apresentação que envolva a interação entre atores (possuídos), audiência, equipe de apoio e Mestre de Cerimônias recria com perfeição uma experiência de possessão. De particular interesse é o papel de Mestre de Cerimônias ou Sacerdote.


Kheith Johnstone (Impro, 1981) observou que e, um ritual Vodu, o mestre de cerimônias possui um alto status e tratado indulgentemente pelos participantes possuídos, que frequentemente exibem comportamento jocoso e infantil. Outra analogia poderosa é a idéia do Mestre de Cerimônias como 'apresentador' levando o possesso ao êxtase da gnosis e prendendo a atenção da audiência. Não existe distensão quanto a isso entre uma capela vodu e uma seção do descarrego neo-pentecostal.


Quase sempre tenho visto a 'audiência' de um processo de possessão, parada estática ao redor do possuído e ocasionalmente sendo repreendida pelo espírito por sua falta de entusiasmo e participação. Ritos de evocação e invocação são muito semelhantes em relação a este quesito. Em minha experiência, o sucesso na materialização de espíritos goéticos dependem principalmente do espaço ritual, do cenário montado e da parafernália utilizada. Da mesma maneira uma boa possessão exigirá um contexto óbvio de possessão familiar a todos os participantes. Expectativas conflitantes frequentemente resultam em resultados que também variam com a intenção dos expectadores.Um bom exemplo de minha própria experiência foi um trabalho no qual uma sacerdote foi claramente designada para uma abertura ritual de uma cerimônia orgástica. A personagem escolhida foi Iustina, uma derivação de uma personagem dos trabalhos do Marquês de Sade. A entidade, diferente da personagem deliberadamente desejava quebrar qualquer aura de virtuosidade vitoriana. Durante o trabalho, a possessa se comportou como a justine do livro, apesar de não ser o que a sacerdote tinha em mente no começo.

Isto, obviamente, não é um problema em cerimônias nas quais toda a assembléia sabe o que esperar da entidade em manifestação. William, Sargant conta um caso de um ritual vodu do qual foi testemunha no Haiti, onde duas garotas foram simultaneamente possuídas por Ghede, um loa conhecido por ser sexualmente ávido" O rito terminou com um colapso emocional das duas participantes caídas no chão. Sargant prossegue e comenta sobre um grupo que ficou de tal forma entusiasmados com o episódio e as duas garotas e que antes estavam tão quietos e tímidos que ele não tinha na memória qualquer participação anterior dos mesmos. Ele notou que as únicas pessoas que ficaram irritadas com o episódio foram os namorados das garotas, mas que eles não podiam dizer nada, pois se tratava de uma manifestação de Ghede. Este é um ponto importante. Em muitos cultos voltados a possessão, existe um entendimento tácito de que o que quer que o possuído faça, é uma conseqüência da entidade que a possui, e ela portanto está isenta de responsabilidade. Não apenas isso, mas depois de sair do transe, muitas vezes sequer é comentado com a pessoa como ela se comportou.


Uma coisa que me intriga é como o tamanho de um grupo influência no trabalho de possessão. O tamanho da assembléia sempre influencia na profundidade do transe por parte dos possuídos. Um pequeno trabalho, em um grupo fechado permite uma maior atmosfera de confiança e relaxamento na qual a possessão acontece. Entretanto, grandes grupos, particularmente os de trabalho frenético com luzes estroboscópicas e danças e gritos em massa, permite os celebrantes atingir níveis profundos de possessão de forma relativamente rápida. Também pelo fato do veículo da possessão não ser o foco das atenções e estar relativamente anônimo a excitação causada é mais elevada.

Inibição Transmarginal


No livro 'A Mente Possuída" William Sargant examina a experiência dos trabalhos de possessão. Ele acredita que a chave para se entender o fenômeno está nas respostas anormais ao stress extremo identificado por Pavlov como Inibição Transmarginal Sargant descreve a reação como tendo três estágios: O Equivalente, o Paradoxial e o Ultraparadoxal.

O Estágio Equivalente se caracteriza pela resposta na qual a reação do indivíduo, enfraquece e fortalece o estímulo ao mesmo tempo. Em outras palavras, uma pessoa sofrendo de depressão pode reagir a experiências significantes ou triviais de uma mesma maneira.

A fase Paradoxal ocorre quando o estímulo produz respostas positivas mais fortes do que o estímulo. Por exemplo quando uma pessoa em depressão não reage quando verbalmente agredida mas pode ser irritada por uma ordem gentil.

A terceira fase, a Ultraparadoxal é caracterizada pelo aparecimento de respostas diametralmente opostas as previamente condicionadas pelo hábito, quando então novas crenças e comportamentos são implantados. Sargant também nota outro fenômeno relacionado a esse estado. Segundo ele, a fase ultraparadoxal aumenta a sugestionabilidade a crenças e estimula o que normalmente não seria notado. O isolamento e inibição de certos pensamentos e comportamentos guardados na memória vêem a tona, e o 'colapso da inibição' toma conta do comportamento habitual.

Sargant encara a possessão em termos antropológicos. Ele aponta que a possessão é uma experiência catártica de ligação com o sobrenatural e nota que em algumas sociedades possessão quando provocada por danças, percussão e cantos usualmente serve como válvula de encape a tensão acumulada dos participantes citando para isso seu próprio trabalho com pacientes sofrendo de choque pós traumático. Sargant e seus colegas deliberadamente colocam seus clientes em situações de êxtase onde revivem o episódio traumático e o alteram no momento do colapso. Posteriormente o próprio trauma é superado por meio desta dinâmica.


O que isso tem haver com possessão? De minha própria experiência eu posso confirmar que possessão é certamente  uma experiência catártica. Intensa atividade psicológica, espasmos musculares, hiperventilação. etc... seguido de grande alívio, frequentemente mais intenso do que as técnicas usuais de relaxamento. Outro ponto interessante é a perda de memória que segue o estado de possessão. Como foi dito acima isso tudo já está amplamente documentado, de sessões de hipnose a cultos de vodu. Existem indícios entretanto que a perda de memória é diretamente proporcional a expectativa do grupo. Em alguns cultos, é um artigo de fé que quando o deus se manifesta, toma completamente o lugar da "alma" humana. Em geral podemos dizer que a possessão se dá de certa forma gradualmente, o que resulta em perdas parciais e totais de memória a medida que a entidade toma lugar do indivíduo.


Sargant também reconhece a importância da atmosfera do grupo em criar um espaço onde a possessão possa ocorrer.Ele observa que o efeito de uma cerimônia de possessão possui sucesso na medida em que leva seus celebrantes a um estado crescente de sugestionabilidade. Batidas rítmicas, danças frenética e cantoria são os três meios mais populares na realização de uma experiência deste tipo, para a qual os magistas modernos adicionaram luzes estroboscópicas e efeitos sonoros.


O uso mágico de máscaras


O uso de máscaras e outras indumentárias é um importante recurso para possessões. Em alguns cultos, quando o celebrante começa a demonstrar sintomas de possessão, a entidade encarnada é reconhecida pelos sacerdotes por meio de certas indumentárias que caracterizam certas deusas ou deuses. Na abordagem ocidental as vezes é necessário que o veículo humano reconheça a si mesmo como canal de manifestação antes que a possessão ocorra, recorrendo-se assim por meio de vestimentas e acessórios adequados. Na magia contemporânea o veículo de possessão dos deuses tende a ser selecionado previamente ao ritual ao invés das encarnações espontâneas que ocorrem por exemplo nas cerimônias vodus pelos loas ou nos cultos pentecostais pelo Espírito Santo. Máscaras são úteis também pois conferem ao usuário um grau a mais de anonimato.


As máscaras africanas por exemplo são usadas em diversos cultos e seus usuários automaticamente apresentam o comportamento dos deuses e entidades por elas representadas. Outro ponto positivo para as máscaras é o de não permitir indefinições ambigüidades a respeito da entidade, como foi apontado acima, pois um deus pode ser muito bem definido por uma máscara específica conhecida pelo grupo. Esse pode entretanto mão ser o caso quando os deuses não são conhecidos, não foram reforçados por qualquer tradição da qual os celebrantes façam parte, ou mesmo quando nunca foram devidamente rotulados, como no caso de Baphomet.

Efeitos Colaterais da Possessão

Em um contexto religioso a experiência da possessão é freqüentemente usada para validar o sistema de crenças de onde nasceu a entidade em questão. Isso pode ser bastante problemático do ponto de vista mágico onde certas crenças inabaláveis não são vistas sob a mesma luz e têm bem menos utilidade e valor. Enquanto no espaço ritual é importante ter fé absoluta na experiência, mas a continuidade de uma crença tão forte fora da câmara ritual pode ser extremamente prejudicial. Isto se torna especialmente importante no caso de rituais de possessão realizados por magos caóticos.  Com freqüência ouço sobre experiências de possessão espontâneas em trabalhos oráculares ou de iluminação, por magos que não realizaram o banimento adequado posteriormente. Em um contexto de crença única, é assumido que o resultado de uma possessão confirma as crenças dos participantes na entidade. No caso da magia caótica, onde a crença é contextual a fé e consequentemente a entidade devem ser abandonadas tão cedo a cerimônia termine.

O segundo problema relativo a possessão é sobre o conhecimento e habilidades advindo da entidade. Pode acontecer de uma entidade se manifestar em um veículo mal preparado. Por mal preparado, eu quero dizer tanto quanto a conhecimentos mitológicos, simbólicos como comportamentais. Isso é particularmente relevante quando consideramos entidades com conhecimentos em áreas específicas. Em culturas orientadas a possessão, como os índios latino-americanos, é comum que entidades curadoras se apossem apenas de curandeiros. Tornar-se-ia muito difícil para alguém sem conhecimentos em áreas específicas comportar-se coerentemente com o espírito de tal entidade. Um problema semelhante acontece em indivíduos sem experiência em possessão que não possuirão a habilidade necessária para entregar a mensagem da entidade, novamente, a habilidade de desinibição, como já discutido mostra-se muito importante.

Em terceiro lugar, existe um problema de fixação. Alguns magos tornam-se viciados em manifestar certos personagens, especialmente em se tratando do comportamento e trejeitos de alguma entidade. Quando isso acontece podemos dizer que deixa de se tratar de um caso de possessão e passa a ser um reforço do próprio ego frente uma audiência. Isso pode resultar em manias obsessivas, com um mesmo estilo de entidade dominando todo o repertório do mago até o ponto em que se torna muito difícil outras entidades se manifestarem. O sinal mais claro de que isso está acontecendo é quando as crenças e  comportamentos do possuído parecem não variar muito mesmo com entidades bem diferentes. Em geral trata-se de uma grande insegurança por parte do veículo de "perder o controle" e deixar as coisas acontecerem livremente.

Um quarto problema trata-se da persistência da entidade em permanecer no veículo mesmo após o final do ritual. Não é difícil que indivíduos continuem sob influência mesmo depois de um bom tempo transcorrido. Alguns veículos mantêm a possessão por horas, ou mesmo dias. Em um contexto religioso este processo culmina em algum tipo de conversão. No seu modelo de possessão Sargant relata que isso freqüentemente ocorre quando a possessão não é finalizada com o extravasas da tensão acumulada e assim nada marca psicologicamente o final do ritual.

Todos os que quiserem trabalhar com rituais de possessão devem ter estes conselhos em mente. E todos os riscos apontados podem ser perfeitamente evitados seguindo a salutar prática ocultistas de iniciar e terminar todas as cerimônias com alguma espécie de ritual de banimento.

Treinamento para Possessão


Como muitos outros tipos de práticas mágicas, a possessão é um processo a ser aprendido. Quando um individuo experimenta a possessão pela primeira vez, isso pode ter algumas conseqüências significativas em sua forma de ver o mundo. A mudança pode ocorrer gradualmente ou de uma hora para outra ou em algum momento especifico do ritual. Dependendo da resistência psicológica, pode ser um processo um tanto sofrível. Sargant nota que quanto mais uma pessoa resiste a se entregar a possessão, mais intensa a experiência final acontece. Da mesma forma eu percebi em minhas próprias experiências que sempre que, conscientemente ou não, e u tentei limitar o estado de possessão, ele paradoxalmente acaba sendo muito mais intenso do que eu esperava. Com prática é possível atingir o estado desejado de maneira relativamente rápida.

É importante lembrar alguns elementos chaves da comuns a qualquer ritual de possessão. Um aquecimento com algum ritual de banimento pé sempre benéfico ao evento principal pois ajuda os celebrantes a focarem a atenção na entidade a ser manifestada. O uso de técnicas gnosis sensórias, como dança, música, cheiros permite que a percepção seja inflamada com a imagens relacionadas a entidade. A possessão pode ser espontânea ou programada, mas não deve ser encorajada a manifestação de entidades que não foram chamadas, nas palavras de Sargant, "Cristãos Pentecostais nunca serão possuídos pela Deusa Kali". Como dissemos, o comportamento de uma pessoa possuída é sempre um retrato fiel do que Sargant chamou de Inibição Transmarginal.  Em outras palavras deuses são deuses e não gostam de receber ordens ou serem controlados. Por este motivo Keith Johnstone notou uma certa indulgência dos sacerdotes com relação e entidades que não querem partir. Isso pode ser resolvido ao colocar o veículo em um nível tão grande de excitação que culmina em exaustão e abandono do corpo por parte da entidade.

Conclusão


Possessão provou para mim ser uma poderosa ferramenta par ao trabalho mágico. Pode ser usado com fins de oráculo, como faziam os gregos e tibetanos, como consagração de ambientes e instrumentos mágicos, para conseguir alguma ajuda ou propriedade da entidade via contato direto, para alguma transformação psicológica em particular, ou simplesmente para experimentar realidades alternativas. Na construção de trabalhos de possessão pode ser útil examinar inicialmente o paradigma mágico, religioso e cultural onde a possessão ocorrerá. A experiência por si só pode ser relacionada a conversões religiosas, hipnose ou terapia.  Assim como todos os outros tipos de técnicas ocultistas, a possessão requer uma cuidados análise e avaliação de nossos próprios hábitos, crenças e limitações. E, geral, a possessão mágica igualmente útil e divertida, e as vezes é simplesmente assustadora.


Por Phil Hine, Trad. Morbitvs Vividvs







quinta-feira, 25 de maio de 2017

Teoria da Meditação


 A meditação consiste na prática de focar a atenção, freqüentemente formalizada em uma rotina específica. É comumente associada a religiões orientais. Há dados históricos comprovando que ela é tão antiga quanto a humanidade. Não sendo exatamente originária de um povo ou região, desenvolveu-se em várias culturas diferentes e recebeu vários nomes, floresceu no Egito (o mais antigo relato), Índia, entre o povo Maia, etc. Apesar da associação entre as questões tradicionalmente relacionadas à espiritualidade e essa prática, a meditação pode também ser praticada como um instrumento para o desenvolvimento pessoal em um contexto não religioso.


A palavra meditação vem do Latim, meditare, que significa Voltar-se para o centro no sentido de desligar-se do mundo exterior e voltar a atenção para dentro de si. Em sânscrito, é chamada dhyana, obtida pelas técnicas de dharana (concentração), no chinês dhyana torna-se ch'anna e sofre uma contração tornando-se Ch'an e Zen em japonês,



A meditação consiste essencialmente na concentração da atenção.


A mente pode ser dividida em consciência sensorial — visão, audição, olfato, paladar, tato — e consciência mental. A consciência mental vai desde as nossas experiências mais grosseiras de ódio ou desejo, por exemplo, até o nível mais sutil da calma e claridade completas. Ela inclui nossos processos intelectuais, nossos sentimentos e emoções, nossa memória e nossos sonhos.



Há muitas técnicas de meditação diferentes e muitas coisas com as quais a mente deve se familiarizar. Entretanto, a meditação não é simplesmente um questão de se sentar uma postura específica ou de respirar de um modo específico; é um estado da mente. Apesar dos melhores resultados geralmente virem quando meditamos em um lugar quieto, podemos meditar enquanto estivermos trabalhando, caminhando, andando de ônibus ou cozinhando um jantar.



Há diferentes métodos praticados em diferentes culturas, mas todos eles compartilham o princípio comum de que a mente simplesmente se torna familiar com vários aspectos de si mesma. E a mente de cada pessoa, oriental ou ocidental, tem os mesmos elementos básicos e experiências básicas, o mesmo problema básico — e também o mesmo potencial.



A meditação não é um espaçamento ou uma fuga. De fato, é ser totalmente honesto com nós mesmos: dar uma boa olhada no que estamos fazendo e trabalhando, para nos tornarmos mais positivos e úteis, para nós e para os outros. Há tanto aspectos positivos quanto negativos na mente. Os aspectos negativos — nossas desordens mentais ou, literalmente, nossas delusões — incluem a inveja, o ódio, o desejo, o orgulho e coisas assim. Elas surgem de nossa compreensão errônea da realidade e do apego habitual ao modo pelo qual vemos as coisas. Através da meditação, podemos reconhecer nossos erros e ajustar nossa mente para pensar e reagir mais realisticamente, mais honestamente.

Muito do que se chama de “meditação” no ocidente, é um relaxamento corporal ou a auto-indução para equilibrar a ansiedade e, com isso, atingir um estado psicológico mais propício ao que se deseja; até as religiões cristãs e evangélicas aderiram a palavra “meditação” para se referirem ao ato de fé numa oração ou num retiro espiritual. Não mero acaso ela está inserida em todo o esoterismo como uma das técnicas para o autoconhecimento, magia ou rituais. Também, é largamente utilizada nas terapias holísticas, alternativa ou vibracional, como um aspecto básico para se aplicar os elementos necessários para a cura do campo áurico ou dos chakras. Dessa forma, meditação tornou-se sinônimo de concentração, capacidade de auto-análise, relaxamento do corpo, equilíbrio emocional, oração, magia, autocura, auto-ajuda.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

DIFERENÇAS ENTRE UMBANDA E QUIMBANDA



Um dos maiores problemas que existem está relacionado à confusão entre Umbanda e Quimbanda. Muitas pessoas acreditam que Quimbanda é uma ramificação da umbanda ou que ela é “o lado negro da umbanda” e isto é de fato uma afirmativa falsa, Pois a Quimbanda é um culto que tem seus próprios fundamentos e eles são muito diferentes da Umbanda, que é um culto que possui uma forte influência cristã.

Apesar de haver muitas diferenças regionais e variações da forma de culto de casa para casa, podemos exemplificar alguns aspectos da umbanda que a torna extremamente diferente da Quimbanda. Quando nos referimos à Umbanda, tudo começou quando no tempo de escravidão no Brasil a igreja católica proibia os negros de cultuarem os Orixás, pois ela demonizava tudo o que não estivesse de acordo com suas tradições.
Os negros foram obrigados a se converterem ao catolicismo e a igreja fez de tudo para destruir qualquer outra espécie de religião praticada por eles. Muitos negros que chegaram ao Brasil já haviam sido catequizados pelos Portugueses, mas havia outros negros que ainda queriam exercer suas crenças. Neste momento alguns negros em suas festas de senzalas começaram a cultuar os Orixás disfarçando seus cultos com imagens de santos católicos para burlarem as proibições da igreja. Nestas festas de senzalas além do culto aos Orixás, começaram a cultuar também os espíritos de ancestrais.
Os Preto-velhos ali incorporados seriam os espíritos de escravos que eram babalaôs, yalorixás, babalorixás, entre outros, que chegaram a uma idade avançada e que em vida davam conselhos e sabiam sobre as artes do seu povo.
Eles viveram nas senzalas e morreram de velhice ou no tronco e assim eram invocados para continuar dando conselhos e passar mensagens de “amor, fé e esperança” aos seus filhos. Anos mais tarde, iniciou-se a montagem de tendas e terreiros por várias partes do país.

No Brasil, os índios também foram escravizados pelos colonizadores e as crenças indígenas também influenciaram de diversas formas na formação da Umbanda, como as manifestações dos caboclos, que seriam espíritos de índios brasileiros, como pajés e caciques que também começaram a ser cultuados nessas casas de Umbanda. Podemos dizer então que a Umbanda surgiu de uma mistura de crenças, fundamentos e concepções originadas dos negros, índios, católicos e também da influência dos espíritas Kardecistas.
Devido ao fato de terem que disfarçar seus cultos com imagens ou elementos católicos e também porque alguns negros catequizados não haviam abandonado totalmente algumas de suas práticas tradicionais,com o passar do tempo, o sincretismo se tornou tão forte que ocorreu uma simbiose entre os santos católicos e os Orixás. Chegando ao ponto de ser comum ver, em muitos terreiros de Umbanda, os chefes de suas casas e seus praticantes rezando missas católicas dentro do terreiro e frequentando igrejas católicas atualmente. Muitos se dizem católicos e umbandistas ao mesmo tempo, frequentando duas religiões. Alguns exemplos dos sincretismos são: Oxalá sendo sincretizado com Jesus
Cristo, Ogum sincretizado com São Jorge, Oxossi sincretizado com São Sebastião, Iansã sincretizada com Santa Bárbara, Iemanjá sincretizada com Nossa Senhora da Glória, Oxumarê sincretizado com São Bartolomeu
e Ibejí sincretizado com São Cosme e Damião, dentre vários outros sincretismos que aconteceram ao longo do tempo. Quando falamos sobre a influência Kardecista na Umbanda, devemos lembrar-nos de Zélio
Fernandino de Morais, que muitos consideram como o anunciador da Umbanda. No dia 15 de novembro de 1908, em Neves, São Gonçalo, município do Estado do Rio de Janeiro, Zélio de Morais, que frequentava uma sessão espírita Kardecista, manifestou durante esta sessão o espírito chamado “Caboclo das Sete Encruzilhadas”, recebendo mais tarde o Preto-Velho também, chamado de Pai Antônio.

Os Kardecistas ali presentes julgaram aquelas manifestações como manifestações de espíritos atrasados, seres de pouca luz, pouco evoluídos. Segundo alguns relatos, quando incorporado através de zelio, o Caboclo
das Sete Encruzilhadas teria dito que se eles (os Kardecistas que estavam ali presentes) julgam os espíritos de pretos e índios como espíritosatrasados, então ele iria criar uma nova religião para que pudessem passar suas mensagens e cumprirem suas missões na Terra. Na década de 1920, Zélio fundou seu primeiro templo de Umbanda, o centro espírita Nossa Senhora da Piedade”, com o objetivo de prestar a caridade com humildade, respeito e fé, de acordo com eles. Algum tempo depois, outros terreiros foram criados por iniciativa do “Caboclo das Sete Encruzilhadas”. Esses terreiros serviram de referência para vários outros terreiros umbandistas que seguiram as orientações de Zélio posteriormente.

Com todos estes acontecimentos, podemos dizer que hoje a Umbanda é cultuada de diferentes formas, sendo algumas casas praticando os ensinamentos de Zélio, outras mais influenciadas pelas práticas anteriores a ele e outras que acabaram se sincretizando mais tarde com mais algumas outras tradições. Todos estes pontos de vistas diferentes dentro da Umbanda também acabaram influenciando o modo deles verem a manifestação e o culto ao Exu.

Na Umbanda existem duas Linhas. A linha da direita, que é formada por Caboclos, Preto-Velhos, Erês, Marinheiros e outros, e a Linha da Esquerda, onde se encontram os Exus e Pomba-Giras. Em algumas casas de Umbanda, principalmente as influenciadas pelo Kardecismo, os Exus são vistos como espíritos trevosos e obscuros que cometeram alguns “erros” durante a vida, mas resolveram se arrepender e estão buscando a luz “divina”, por isso estão trabalhando na Terra, para obter ajuda e também praticar caridades, ajudando outras pessoas para que todos eles possam “evoluir” e encontrar “a luz de Deus”. Segundo eles, o lado esquerdo da Umbanda é uma forma de ajudar os espíritos trevosos a encontrar o caminho da luz do “Deus criador”.
No entanto, em outras casas de Umbanda, existem aqueles que procuram agradar os dois lados.

Se por um lado eles acendem velas e trabalham com as “entidades de luz” da linha da direita, as quais eles consideram como seres de luz evoluídos, eles também trabalham com “a linha da esquerda”, os quais muitas vezes consideram como seres malignos e pouco evoluídos, fazendo pedidos às entidades para prejudicar outras pessoas, conseguir dinheiro e etc. Comumente eles dizem “Devemos acender uma vela para Deus e outra para o Diabo”. Na Umbanda há também culto aos Orixás, em algumas casas cada Orixá possui um Exu à sua esquerda e à sua disposição, repassando suas qualidades às entidades. Nenhum desses conceitos acima faz parte da Quimbanda, por isto estes são apenas alguns aspectos que tornam a Umbanda extremamente diferente da Quimbanda. Não somente pela forma exotérica, mas também pela forma esotérica. Essencialmente a Umbanda e a Quimbanda são muito diferentes, são duas correntes opostas, pois se por um lado à umbanda é dotada de uma ética cristã, baseada em um conjunto de “leis divinas”, a Quimbanda representa a heresia, a transgressão, o anti-politicamente correto e a quebra de leis dos homens e das leis do Deus cristão.

Autoria do texto de Marcelo Siqueira Mantelato

 

terça-feira, 16 de maio de 2017

Estudo revela por que o ateísmo apavora tanta gente


Quando pensam no ateísmo, uma das primeiras reações que as pessoas têm é sobre a morte (ou sobre o medo de ir para o inferno).

Um novo estudo realizado por Corey Cook, psicólogo social da Universidade de Washington, nos EUA, lança alguma luz sobre esse fenômeno.
O estudo de Cook estabelece uma hipótese que ele chama de “teoria da gestão do terror”. A ideia é que a consciência da morte pode deixar as pessoas aterrorizadas, mas esses medos são atenuados pelo sentido cultural de que cada um de nós é uma parte significativa do universo. O anti-ateísmo, logo, parte da “ameaça existencial representada por crenças de visão de mundo conflitantes”.
“O que descobrimos [no estudo] é que, quando os participantes pensavam sobre o ateísmo, isso realmente ativava a preocupação com a morte na mesma medida em que pensar sobre a própria morte”, disse Cook

Os experimentos

A pesquisa focou no lado inconsciente de considerar a morte. Os pesquisadores realizaram dois experimentos diferentes conduzidos com estudantes no College of Staten Island, escolhido em parte devido à composição diversa de sua população estudantil.

Na primeira experiência, composta por 236 alunos (172 mulheres e 64 homens, a maioria cristãos), os participantes foram convidados a escrever “o que eles achavam que iria acontecer fisicamente quando morressem” e, em seguida, a descrever as emoções que o pensamento de sua própria morte despertava neles.

Em seguida, também responderam quais eram seus sentimentos sobre ateus, incluindo uma classificação sobre sua confiabilidade.
O segundo experimento pediu que 174 alunos descrevessem as emoções que sentiam em relação à sua própria morte ou “anote, o mais especificamente possível, o que o ateísmo significa para você”. Em seguida, os alunos completaram um conjunto de fragmentos de palavras, que poderiam ser preenchidas como palavras neutras (por exemplo, “skill” que significa “habilidade”) ou como palavras relacionadas com a morte (“skull” que significa “crânio”).

Ateísmo e vida após a morte

As experiências de Cook eram mais específicas do que apenas falar sobre a morte. De acordo com a teoria da gestão do terror, pensar nisso faz as pessoas começarem a se preocupar com quem apoia ou não sua visão de mundo, se tornando contra os que acreditam de forma diferente. Isso é inconsciente: você não percebe que tal coisa importa mais do que fazia alguns minutos atrás.

Curiosamente, os ateus no estudo não estavam imunes a isso. Eles também têm que enfrentar a ideia sobre o que vai acontecer com eles – logo, o ateísmo aumenta os pensamentos de morte mesmo para ateus. Conforme o estudo de Cook destaca, ainda há muita atitude defensiva em torno da noção secular de que a morte é o fim. Muitas pessoas desejam uma vida após a morte, daí a repulsa ao ateísmo

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